Para descomplicar a escrita jurídica: curso torna o Direito acessível a todos

Simplificar a escrita jurídica é mais que uma questão de clareza – consiste num ato de cidadania que permite a todos compreenderem seus direitos e obrigações de maneira mais acessível. É exatamente a essa missão que a advogada, escritora e jornalista Ivy Farias se dedica em seu curso “Escrever Direito”.

Ivy conta que o curso tem ajudado a transformar a maneira como a linguagem jurídica é percebida.

“Escrever Direito é minha missão de vida: acredito que a escrita é um direito humano, uma cura e, sobretudo, amor. Tenho amor às palavras porque elas dão vida aos sentimentos: expressá-los torna tudo mais fácil”, diz Ivy Farias.

“Escrever Direito” ensina as habilidades essenciais da escrita, com foco na transmissão clara e eficaz de ideias. Ivy enfatiza que, embora muitas pessoas aprendam ortografia e gramática na escola, escrever vai muito além disso. É sobre expor pensamentos, sentimentos e ideias de forma que ressoem com os outros, permaneçam no tempo e, claro, que sejam compreendidas, pois não adianta escrever se ninguém entende o que é dito.

“Vi na rede social a atriz Beth Goulart emocionada após ter encontrado duas folhas de papel em que sua mãe, a também atriz Nicette Bruno, escreveu de próprio punho o Pai Nosso. ‘Eu sinto minha mãe viva’, disse”, conta Ivy, destacando o poder da escrita em conectar as pessoas e preservar momentos e memórias.

Ivy Farias se dedica ao curso “Escrever Direito”

Como surgiu

O curso “Escrever Direito” começou com aulas abertas, destinadas a quem desejava liberar sua criatividade e superar bloqueios na escrita. Devido à sua experiência como ghost-writer (escritora fantasma, na tradução literal), Ivy também passou a atrair colegas do mundo jurídico que buscavam melhorar a clareza e fluidez de seus textos.

“Chegou um dia que tive tanta demanda que pensei: ‘Vou transformar clientes em alunos!'”, revela Ivy.

Seu primeiro livro jurídico, “Escrever Direito: Manual de Escrita Criativa Para Carreiras Jurídicas”, tem como foco ensinar pessoas que trabalham com Direito a abandonar o “juridiquês” em favor de um texto mais acessível e compreensível. Além desse curso, ela oferece diversos outros, que incluem escrita para crianças, para pessoas idosas ou em situação de fim de vida, e até mesmo para mulheres encarceradas.

“O objetivo é conscientizar as pessoas de que escrever é o que nos torna humanos e não ser robôs que copiam e colam e/ou dão respostas padrão. É trazer presença para o ato de escrever porque a palavra tem poder”, afirma Ivy.

Além de tudo, Ivy destaca a importância de adaptar a escrita à era digital, já que a forma como as pessoas leem e compreendem a informação está em constante evolução. Para isso, a escrita jurídica precisa ser objetiva e eficiente para garantir um entendimento rápido.

Movimentos para descomplicar a escrita

Em São Paulo, por exemplo, existe a Lei e a Política Municipal de Linguagem Simples, um grande avanço que busca tornar os documentos oficiais de fácil compreensão para todos.

O movimento de Linguagem Simples, que começou no Reino Unido na década de 1970, reconheceu que uma escrita formal e complexa prejudica o entendimento e afeta negativamente os negócios e a vida das pessoas. Ivy destaca um caso interessante de Portugal, onde a adoção dos princípios de Linguagem Simples levou a um aumento significativo na taxa de pagamento voluntário de impostos.