O autodomínio é a gestão de si. É por meio dele que alcançamos certo equilíbrio, seja para a moderação de nossos desejos de prazer, de posse e até mesmo de poder, seja para focarmos naquilo que é essencial. E isso tem muita importância quando se trata também da nossa vida espiritual, pois ninguém consegue avançar na espiritualidade se não estiver bem consigo mesmo.

Alguém já te falou sobre tomar as rédeas da própria a vida? Isso tem um profundo significado: “devo ter a minha vida em minhas próprias mãos, e não nas mãos do acaso e da loucura”. Em outras palavras, significa que enquanto nos permitirmos seguir sem foco, aceitando a guia do acaso, disparados e sem direção, as chances de nos ferirmos é maior.

A nossa vida precisa de autodomínio. Caso contrário, não conseguimos frear instintos devoradores, não mudamos em relação à alimentação, ao comportamento que afeta a nós e ao próximo, à atenção com estudo e trabalhos, por exemplo. Sem o autodomínio, tendemos a nos comportar levados pelos sentidos, pelos anseios e pelos desejos do corpo, ignorando o uso da razão e do bom senso. A falta de autodomínio causa muita frustração, dor e até mesmo solidão.

Existem muitos comportamentos no dia a dia que se não forem dosados pelo autodomínio tendem a desenvolver em nós algum tipo de mau hábito que pode se tornar um vício extremamente cruel. Por exemplo: pessoas com o mau hábito de comprar coisas desnecessárias precisam se policiar em relação ao uso do dinheiro. Caso não o façam, tendem a desenvolver o consumismo compulsivo, ou seja, o vício em sempre comprar muito, e disso pode resultar em um caos financeiro para a própria vida e para toda a família. 

Já outros hábitos e vícios podem deixar sequelas graves no corpo e no cérebro, como é o caso do uso excessivo do álcool, cigarro, drogas ilícitas, remédios e etc. Ignorando o uso do raciocínio e do bom senso, a tendência será sempre a de maquiar os problemas que são decorrentes dos próprios comportamentos impensados.  

Espiritualidade

A vida de alguns não vai para frente tão unicamente por falta da virtude da temperança em suas ações e comportamentos. Como exemplo, é possível citar a diferença de quem costuma ‘planilhar’ seus gastos com alguém que não aguenta viver se não adquirir aquele bem ou produto que não é essencial para a vida. Os maus hábitos e vícios aos poucos se tornam o centro da nossa vida, e os hábitos bons e virtuosos que deveríamos praticar acabam por perder espaço para o destempero de nossas ações. 

Falar de autodomínio e hábitos, então, não é apenas artifício de linguagem para a autoajuda ou para termos um bom comportamento aos olhos dos outros. Trata-se antes de uma questão de salvação eterna. Sem autodomínio, perdemos a capacidade de investir nossas energias e tempo na salvação da nossa alma e no crescimento do Reino de Deus. Sem ele, corremos o sério risco de desperdiçar nossa vida no que é supérfluo, sem profundidade e sem sentido.

Na história da Igreja percebemos que os grandes homens e mulheres de Deus eram pessoas organizadas, comedidas e nunca extravagantes. Os santos buscavam direcionar o que tinham de melhor para Deus e para os irmãos. Eles nos ensinam que a falta de autodomínio é, em última instância, expressão concreta do egoísmo humano, que não quer se submeter a Deus e nem quer amar ao próximo.

Não precisamos ir longe para verificar essa verdade. Basta observar as muitas situações que nos cercam para concluir que tudo o que é exagerado tende a nos destruir. O remédio é sempre o mesmo: buscar a justa medida do Evangelho.

Como alcançar o autodomínio?

São muitos os meios para isso. Claro que dependendo da condição psicológica de cada indivíduo, às vezes é necessária alguma intervenção médica e terapêutica, como é o caso de pessoas com doenças como a depressão, vícios em drogas, neuroses e etc.

Exercícios espirituais

Alguns exercícios espirituais nos ajudam a ganhar mais força de vontade, como é o caso do jejum e da penitência (acompanhados de muita oração). Isso porque a privação voluntária de certos prazeres nos ajuda a adquirir autodomínio e liberdade de coração. Chamamos isso de educar a vontade própria e quem consegue se desenvolver a esse ponto, sente uma grande alegria e satisfação.

Atividade física

Só a disposição que o corpo ganha quando habituado ao exercício em si já é um grande aliado para controlar e direcionar nossas energias e vontades. 

Sobriedade como estilo de vida

Vencer nossos caprichos não é fácil. Por isso, precisamos de foco e determinação. Nesse caminho, é muito importante abraçar a sobriedade como estilo de vida, educar nossa maneira de comer, de falar, de se alimentar e de se vestir, etc.

Organize-se

Organizar-se é extremamente necessário para uma pessoa que busca equilíbrio na vida. Há muitas maneiras de se organizar, principalmente escrevendo seu plano em uma agenda ou fazendo planilhas, tabelas, anotando em um mural ou até mesmo colocando um alerta no celular.

Praticar o autoconhecimento

A vida nos dá muitas oportunidades para nos conhecermos melhor. Uma pessoa que se conhece sabe seus limites. Vale a pena investir em se conhecer para conquistar o amadurecimento de si. 

Paciência

De modo algum devemos ser ingênuos em acreditar que as coisas acontecem da noite para o dia. Exercitar o que é virtuoso, assim como numa academia, para ter algum efeito precisa de tempo e repetição. E atenção: um dos maiores males da nossa mente é justamente a dificuldade em controlar a ansiedade e o imediatismo.