Nem todos os personagens que marcaram a história do cristianismo estiveram entre os seguidores diretos de Jesus. Um exemplo é Gamaliel, um fariseu sábio e respeitado que aparece no livro dos Atos dos Apóstolos como defensor dos discípulos e mestre de São Paulo.
A Tradição o apresenta como exemplo de equilíbrio e prudência no papel de mestre e líder, que deve agir com sabedoria, escuta e discernimento diante dos conflitos.
Gamaliel foi um rabino fariseu e membro do Sinédrio, o conselho supremo dos judeus em Jerusalém. A Bíblia o apresenta como “doutor da Lei, estimado por todo o povo” (At 5,34). Pertencia à escola de pensamento de Hilel, seu avô, conhecida pela interpretação misericordiosa e equilibrada da Lei de Moisés.
Segundo Atos 22,3, o próprio São Paulo reconheceu ter sido seu aluno. “Sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas educado nesta cidade, aos pés de Gamaliel, instruído conforme o rigor da lei de nossos pais”.
Antes de sua conversão, Paulo foi formado por Gamaliel em Jerusalém, de quem recebeu uma educação religiosa sólida e rigorosa. O mestre era reconhecido pela sabedoria e pela fidelidade à tradição, capacidade de ponderar antes de agir, virtude que o tornaria decisivo em um momento-chave para a Igreja nascente.
O episódio mais conhecido de Gamaliel está em Atos dos Apóstolos 5,33-39. Após a prisão de Pedro e dos outros apóstolos, o Sinédrio decidiu condená-los por continuarem a pregar o nome de Jesus. Nesse momento, Gamaliel levantou-se e pediu prudência:
“Homens de Israel, considerai bem o que ides fazer a esses homens. (…) Se este plano ou esta obra vem dos homens, será destruído; mas, se vem de Deus, não podereis destruí-los. Cuidai para que não vos encontreis combatendo contra o próprio Deus.” (At 5,35.38-39)
Seu conselho convenceu o Sinédrio. Os apóstolos foram açoitados, advertidos e, depois, libertos. Assim, Gamaliel foi instrumento de Deus para preservar a vida dos discípulos, mesmo sem ser cristão.
O Vatican News destaca que sua atitude revela “a sabedoria de quem confia na ação divina e não se deixa mover pela ira, mas pela razão iluminada pela fé” (Vatican News, 2023).
A prudência de Gamaliel mostra que a verdadeira autoridade nasce da serenidade e do discernimento. Enquanto outros membros do Sinédrio agiam por medo ou raiva, ele buscou compreender se aquela nova fé poderia vir de Deus. O diálogo é sempre caminho de reconciliação, essencial também na vivência cristã.
O Catecismo da Igreja Católica (n. 1787-1788) ensina que, nas decisões morais, o discernimento requer silêncio interior, conselho e prudência. Gamaliel personifica esse ensinamento: diante de uma situação tensa, escolheu agir com calma, ponderar e confiar que Deus revelaria a verdade.
Além de mestre de Paulo, Gamaliel é lembrado como modelo de educador, que não impõe, mas orienta.
Ao ensinar São Paulo e defender os apóstolos, Gamaliel colaborou, de modo misterioso, com o plano de Deus. Muitas vezes, a ação do Espírito Santo se manifesta em gestos simples de prudência e bondade.
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