O mundo inteiro desperdiça cerca de 14% dos alimentos entre a colheita e a venda. Quando o assunto são frutas e vegetais, esse índice sobe para mais de 20%. Em 2021, o Índice de Desperdício de Alimentos mostrou que 931 milhões de toneladas de alimentos foram desperdiçados. Ou seja, acabaram indo para o lixo.
Na contramão desses dados, em 2021 o número de pessoas afetadas pela fome subiu para 828 milhões, de acordo com o relatório das Nações Unidas. Já mostramos aqui no IDe+ ações que têm buscado melhorar a relação entre o desperdício e quem tem fome, mas você sabia que também pode ajudar a combater o desperdício?Isso mesmo, e com ideias simples e que são deliciosas.
A professora doutora em engenharia de alimentos Ariadine Reder explica que é preciso pensar no consumo consciente.
“A prática de reaproveitamento de alimentos deve ser levada com muita seriedade pela população. No mesmo Brasil em que milhões de pessoas se encontram em algum grau de insegurança alimentar (quando não se tem acesso regular e permanente a alimentos em quantidade e qualidade suficiente para sobrevivência). Então porque não usarmos da criatividade para elaborar novas receitas pensando nesse reaproveitamento? Porque não pensarmos em uma alimentação mais racional?”, diz a engenheira.
Mas atenção: é preciso saber que existe uma diferença entre aquilo que pode ser considerado desperdício e o que pode ser reaproveitado. A sobra do alimento (que é o que já foi exposto e sobrou, como os alimentos do almoço ou jantar) pode ser aproveitada se armazenada de maneira correta.
“Todo alimento que sobra de um preparo culinário deve ser armazenado o quanto antes possível em temperatura de refrigeração para que possíveis contaminações sejam minimizadas. Isso porque, uma vez que o alimento é exposto às condições ambientais naturais (como o próprio ambiente da cozinha, o contato com quem o preparou, e até mesmo o tempo que fica exposto à mesa para que façamos nossa refeição), existe a possibilidade de sofrer contaminação por micro-organismos”.
Engenheira de Alimentos explica como reaproveitar alimentos sem riscos
Já os restos são aqueles que foram preparados, servidos e, por estarem já no prato ou impossibilitados de serem conservados de maneira correta, devem ser descartados.
Por fim, há as partes não convencionais, que são próprias do alimento e que, muitas vezes, acabam desprezadas porque não se conhece o uso ou até mesmo por preconceito.
“Quando falamos em alimentos não convencionais, podemos pensar naquelas partes que descartamos no preparo de alimentos como as cascas das frutas e verduras, sementes, entre outros. Porém, existem opções que vão além dos ‘resíduos’ do nosso preparo culinário. São as PANCs, plantas alimentícias não convencionais, um grande grupo que há alguns anos vem sendo estudado e tem seus benefícios comprovados. Os PANCs são folhas, verduras, frutos e raízes que não temos o hábito ou costume de consumir e que dificilmente são encontradas em mercados”.
Essas PANCs costumam ser consideradas como ervas daninhas ou até mesmo um mato no quintal, já que podem crescer espontaneamente com as plantas que temos em casa. “Essas plantas acabam sendo jogadas fora e, com isso, perdemos a oportunidade de consumir alimentos com um alto valor nutricional por falta de informação. Um exemplo é a rúcula, que hoje consumimos rotineiramente, mas há algum tempo era considerada uma erva daninha”.
Outro exemplo apontado pela engenheira de alimentos é a batata doce, que é consumida, mas poderia ser melhor aproveitada, já que suas folhas são ricas em vitamina C. “Uma boa dica é comê-las refogadas com alho e azeite”.
Que tal então, além das folhas da batata doce, aprender outras dicas de alimentos não convencionais? Ariadine separou algumas para você:
Utilize as cascas de vegetais para preparar sucos.
Utilize as sementes para o preparo de farinhas.
Utilize as folhas dos tubérculos para incrementar uma torta salgada.
“O importante é redescobrir as possibilidades para não desperdiçar”.
A engenheira destaca que nessa ideia de alimentos não convencionais há várias possibilidades. Entre elas, o reaproveitamento das cascas.
“As cascas de frutas e vegetais são ricas em fibras e a grande maioria possui propriedades biológicas importantes como antibacterianas, antioxidantes e anti-inflamatórias. Existem várias oportunidades de reaproveitá-las no preparo de receitas’, completa.
E para inspirar você, ela separou uma receita com casca de banana.
Você vai precisar de:
Modo de preparo:
Em uma panela, coloque as cascas de banana com o açúcar e cozinhe até ficar pastoso. Acrescente os demais ingredientes e mexa até desprender do fundo da panela. Coloque em um prato e deixe esfriar. Faça bolinhas, passe-as no chocolate granulado. Prontinho, agora é só saborear essa opção de brigadeiro mais saudável e nutritivo.
Alertas e cuidados
Mas Ariadine alerta, não use alimentos que não conhece sem informações prévias. “Não é para sair pegando qualquer mato ou plantinha e comer. Algumas espécies apresentam propriedades tóxicas. Se você tiver curiosidade sobre alguma planta, pesquise sobre a possibilidade de consumo previamente”, finaliza.
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