Sacramento da Reconciliação: modo único de experimentar a misericórdia de Deus

Sacramento da Reconciliação: modo único de experimentar a misericórdia de Deus

Por Diogo Costa Fernandes, SJ | Vigário na Paróquia Cristo Rei – Fortaleza/CE

A realidade do pecado está presente em nossa vida, o que muitas vezes nos leva a não fazer o bem que queremos, mas a fazer o mal que não queremos (Rom 7,19). Contudo, se o pecado é grande na vida humana, a graça de Deus é ainda maior (Rom 5,10).

A graça de Deus também se traduz e é experimentada pelo Sacramento da Penitência. Também conhecido como Sacramento da Confissão ou da Reconciliação, o Sacramento da Penitência é um modo único de experimentar o amor e a misericórdia de Deus, pois o Senhor veio com um olhar especial para os que necessitam de conversão (Lc 5,31-32).

Como, então, podemos aproveitar melhor o Sacramento da Penitência, de modo a trilhar um caminho de conversão que nos ajude viver com mais autenticidade a vida cristã? Como fazer uma boa experiência de confissão? Essa pergunta pode até parecer simples de se responder (“é só ir ao Padre e, de coração arrependido, confessar os pecados”). Porém, quanto mais compreendermos o Sacramento da Penitência, melhor aproveitaremos a graça que Deus comunica através desse Sacramento.

Poderíamos entender o Sacramento da Penitência como o meio privilegiado de receber a graça e misericórdia divinas que nos são comunicadas por meio de toda a vida de Jesus. O Sacramento da Penitência, portanto, não gira em torno do pecado, mas do amor e da misericórdia de Deus.

O nome “penitência” faz mais referência à pessoa que busca este Sacramento, nesse caso, o ou a penitente. A experiência da reconciliação com Deus e consigo mesmo não é uma penitência, mas uma experiência do amor gratuito de Deus, que está sempre de braços abertos para acolher seus filhos e filhas, como naquela bela imagem do pai misericordioso que fica esperando o retorno de seu filho pródigo (Lc 15,11-32).

Além dessa experiência de amor e de profunda acolhida por parte de Deus, o Sacramento da Penitência nos ajuda a viver um constante processo de conversão. Não confessamos apenas os nossos pecados, mas nossa condição de pecadores e pecadoras, de criaturas que são dependentes da graça de Deus. O ser humano facilmente se esquece que é uma criatura dependente da graça de Deus. Esse esquecimento nos leva a viver como se não precisássemos de Deus. O cristão ou a cristã que vive desse modo autossuficiente, no fundo, afirma-se como seu próprio Deus. Definitivamente, não somos Deus e não podemos assumir o lugar de Deus. O Sacramento da Penitência nos recorda que não apenas somos criaturas limitadas, mas criaturas muito amadas e perdoadas por Deus.

Uma vez que reconhecemos a beleza do Sacramento da Penitência, podemos refletir sobre as perguntas lançadas anteriormente, em especial, à pergunta sobre como fazer uma boa confissão. O que devo confessar? Basicamente, tudo aquilo que destrói a comunhão entre mim e Deus.

É importante sempre ter em vista a orientação geral da conduta cristã que é expressa pelos Dez Mandamentos da Lei de Deus. Quando Jesus foi questionado pelos fariseus sobre qual seria o maior mandamento da Lei, Jesus respondeu sobre o amor a Deus acima de todas as coisas, como o maior e mais importante mandamento. Jesus também acrescentou que o amar ao próximo como a si mesmo é o segundo mandamento.

Ele ainda acrescentou que “Toda a Lei e os profetas dependem desses dois mandamentos” (Mt 22,34-40). Todas ações que não contemplam esses dois mandamentos merecem nossa atenção pois aí é que podem estar as situações que geram fechamento à presença amorosa de Deus e a fraternidade entre a humanidade. Mais interessante do que ter um padre ou a Igreja lhe informando o que é e o que não é pecado, é interessante que cresçamos em maturidade de fé.

Uma pessoa consciente de sua relação com Deus é capaz de discernir aquilo que a afasta da comunhão com Deus e a coloca em uma dinâmica de fechamento em si e falta de caridade. Perguntas como “o que tem me tirado a paz?” “o que me afasta de Deus?” “quais atitudes têm me roubado a oportunidade de amar a Deus e ao próximo?” podem ser úteis no processo de preparação para uma boa confissão. Não se trata de desprezar os ensinamentos e as práticas da Igreja, ao contrário, trata-se de assumi-las com responsabilidade e entendimento.

Essas perguntas podem fazer parte de uma dinâmica mais profunda de exame de consciência antes da confissão. Muito ajuda o penitente, antes da confissão, examinar a própria vida. Esse exame não se trata simplesmente de ficar recolhendo pecados para serem confessados, mas uma experiência orante de encontro com o Senhor. Um bom exame de consciência se inicia com a invocação da luz do Espírito Santo, seguido de uma ação de graças por tanto bem que o Senhor tem realizado em minha própria vida e na vida de meus irmãos e irmãs. É importante reconhecer a generosidade de Deus, pois o melhor modo de conhecermos e nos arrependermos de nossos pecados se dá pelo contraste entre meu pecado e o amor misericordioso de Deus.

Após esse reconhecimento do bem que Deus tem realizado em minha vida e na humanidade em geral, somos convidados e convidadas a olhar qual tem sido a nossa resposta ao generoso amor de Deus, ponderando aquilo que nos afasta de Deus e que nos faz ficarmos fechados em nós mesmo. A vocação humana à vida também é uma vocação ao amor e à abertura, se algo nos impede de viver bem essa dinâmica, há muitas chances de que aí haja conteúdo para ser confessado. Por fim, termino esse exame de consciência pedindo a Deus a graça necessária para a conversão.

Quando é chegada a hora da misericórdia, isto é, o momento da confissão, muito nos ajuda compreender melhor o rito do Sacramento da Penitência. Pode-se destacar, por exemplo, a diferença entre uma confissão e uma orientação espiritual. Basicamente, a orientação espiritual se dá em um ambiente de conversa e o tema a ser tratado não é necessariamente o pecado, mas sim o progresso espiritual.

A confissão também visa o progresso espiritual, mas ela é mais voltada para a confirmação da misericórdia de Deus a partir da confissão dos pecados. Em algumas confissões, o presbítero pode julgar importante a colocação de algumas perguntas em vista de um melhor aconselhamento ao penitente. O intuito é que a experiência da confissão seja um meio efetivo para uma conversão de vida.

A penitência é outro elemento importante na confissão. Ela não visa simplesmente uma reparação ou castigo pelo pecado cometido. Ao contrário, ela é um instrumento que visa auxiliar o penitente a se desvencilhar do pecado. Deus não precisa nos castigar para que sejamos perdoados e perdoadas, o perdão de Deus é dom gratuito! Também o selo (ou segredo) de confissão é algo importante. Algumas pessoas se preocupam muito com o que o presbítero pensaria delas se confessassem esse ou aquele pecado. Os padres estão cientes e informados do quão sagrado é o selo de confissão. Ajuda mais ao penitente se preocupar em viver um processo de profunda conversão do que se fechar por imaginar o que o padre pensaria dele ou dela.

Finalmente, vale lembrar que uma boa confissão é aquela em que a pessoa apresenta profunda e real contrição pelos pecados cometidos, com a firme resolução de não mais reincidir no pecado. Sabemos que muitas vezes cometemos os mesmos pecados, porém, a disposição em não mais pecar deve ser sincera no penitente. Em todo caso, uma vida de caridade é um remédio efetivo contra o pecado (1Pd 4,8).

 

Esse texto foi escrito pelo Padre Diogo Costa Fernandes e originalmente publicado no Jornal do Evangelizador.

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Comentários

  • Rafael Rodriguez
    Muy buen articulo me hizo salir de dudas que me tenian desesparado. Gracias.

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