Por Gustavo Beghetto Dias Supervisão Maíra Gioia
Navegando nas redes sociais nas últimas semanas, você provavelmente deve ter visto um vídeo impressionante que mostra um jovem em um caiaque sendo engolido por uma baleia jubarte e logo depois cuspido de volta. Apesar do susto, o venezuelano Adrian Simancas, de 24 anos, não sofreu maiores ferimentos e saiu inteiro da situação para poder contar a história.
Reprodução: Dell Simancas/YouTube
O caso aconteceu no mar próximo à cidade de Punta Arenas, no extremo sul do Chile. Adrian e seu pai, que foi o responsável por gravar as chocantes imagens, faziam a travessia de um canal na região quando foram surpreendidos pelo animal que emergiu e abocanhou o rapaz em sua embarcação. A descrição da cena parece a de um milagre. Afinal, como seria possível um ser humano ser engolido por um animal tão grande e ainda assim se salvar praticamente ileso? A ciência pode esclarecer.
Camila Domit, bióloga, professora e coordenadora do Laboratório de Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná (LEC-UFPR), explica o comportamento das baleias jubarte durante sua alimentação.
“Esse acontecimento que foi filmado foi durante um movimento de alimentação da baleia. Elas se alimentam em grupos e têm esse comportamento de fazer bolhas e vir com a boca aberta debaixo pra cima buscando o alimento, como cardumes de pequenos peixes. Nesse movimento ela engole muita água, e, por acidente, abocanhou caiaque”, afirma.
Segundo a bióloga, as baleias jubarte são espécies migratórias. Nesta época do ano, em que é verão no hemisfério sul, elas costumam se alimentar nas águas mais frias próximas ao continente antártico, como é o caso do canal onde estavam navegando pai e filho no momento do acidente.
“Elas se alimentam na região dos polos e se reproduzem nas áreas mais próximas às regiões tropicais. Algumas delas fazem migrações mais oceânicas e outras nadam bem próximas da costa”, conta.
Reprodução Youtube
Fábio Henrique de Lima, médico veterinário e pesquisador do LEC, comenta que o movimento de abrir a boca é apenas uma das estratégias de caça das baleias jubarte, que possuem também outras formas de obter alimento.
“As jubarte apresentam barbatanas na boca, que são muito utilizadas para se alimentar do krill, que é uma espécie muito pequena de crustáceo. Elas puxam a água para dentro da boca enquanto a baleia nada, filtram o krill para a alimentação, e depois devolvem a água ao ambiente. Quando ela abre a boca, é para capturar grandes cardumes desses crustáceos ou de peixes”, explica.
Fábio destaca que não havia possibilidade de que a baleia de fato engolisse o jovem que estava no caiaque, mas reforça a importância de respeitar o território destes animais para que acidentes sejam evitados.
“É importante ressaltar que nós humanos não fazemos parte da dieta de uma baleia jubarte, então naturalmente esse animal vai ejetar o humano quando acabam acontecendo esses tipos de acidentes, que são muito raros. A mensagem que fica desse ocorrido é a de sempre respeitar as zonas de alimentação dos animais, porque eles podem machucar tanto os humanos quanto as baleias”, afirma.
Reprodução Youtube
A bióloga Camila Domit complementa dizendo que a tendência é que encontros entre animais marinhos e seres humanos aumentem, e que é preciso cuidado e conhecimento para que não ocorram interações negativas, como a mostrada no vídeo.
“Nós estamos cada vez mais no mar, somos uma população cada vez maior, e as jubartes têm recuperado seu tamanho populacional e sido mais vistas, então as taxas de encontro tendem a aumentar. Há outras situações já relatadas, não tão ‘estranhas’ como essa do vídeo, e é preciso ter cuidado e respeito por esses animais”, finaliza.
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