Futrica, fuxico, fofoca: três palavras diferentes para uma mesma prática — falar da vida alheia. E nenhum ambiente parece carregar essa fama tanto quanto o salão de beleza. Há quem diga, inclusive, que conversar sobre terceiros “faz parte da essência do salão”.
Mas será mesmo? No Dia Nacional do Cabeleireiro (3 de novembro), fica a reflexão: o que a fé cristã tem a dizer sobre isso? Existe um jeito de transformar o salão em espaço de acolhimento e não de julgamento?
Em uma audiência no Vaticano, o Papa Francisco se encontrou com uma delegação de cabeleireiros, barbeiros e esteticistas ligados ao Comitê de São Martinho de Porres, padroeiro da categoria. Ele pediu que esses profissionais evitassem a tentação da fofoca durante o trabalho e lembrou que a profissão, para um cristão, também é missão.
O Papa recomendou que os profissionais exercitem “gentileza, paciência, escuta e respeito à dignidade do outro”, porque o salão de beleza pode ser — e deve ser — um espaço de encontro, não de difamação.
A fofoca nem sempre é tratada como pecado porque parece algo “leve”, socialmente aceito, até divertido. Mas a Igreja é clara nesse ponto: falar da vida alheia sem necessidade, inventar, distorcer ou expor, é pecado contra a caridade, contra a verdade e contra a dignidade do próximo.
Papa Francisco também já disse que “o fofoqueiro é como um terrorista, joga a bomba e vai embora, destruindo a reputação do outro”. Ele usou essas palavras por saber que a fofoca machuca, desune e espalha um veneno lento.
O Catecismo da Igreja Católica afirma que “a maledicência e a difamação ferem as virtudes da justiça e da caridade” e que todo cristão é chamado a “guardar a honra e o bom nome das pessoas” (CIC 2477-2479).
A escolha de São Martinho de Porres como padroeiro da categoria tem um motivo especial. Nascido no Peru, filho de mãe escravizada e pai espanhol, ele era barbeiro, enfermeiro e religioso dominicano. Vivia a caridade concreta e silenciosa: cuidava dos pobres, dos doentes e até dos animais. Nunca julgava, não fazia distinção de pessoas e jamais usava a palavra como arma.
Seu exemplo recorda que o salão também pode ser lugar de evangelização, de escuta e de acolhimento — e não de exposição da vida alheia.
Cabeleireiros são exemplos de trabalho e cuidado, capazes de devolver autoestima, valorizar identidades e acolher pessoas de todas as idades e histórias. O gesto de “fazer o outro se sentir bem” é um ato de serviço e dignidade humana. Quando esse cuidado se une ao respeito e à caridade, o salão é ambiente de beleza por dentro e por fora.
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