São Pedro, não leve a mal, mas no Nordeste rural, o santo das águas é São José

Chuva no sertão do Nordeste é sempre bem-vinda e representa bençãos do céu. Porém, há uma data do ano na qual a incidência da precipitação é ainda mais especial. Trata-se do Dia de São José, comemorado em 19 de março, e isso tem relação com a crença popular de que a presença de água quando da sua celebração é sinal de fartura e prosperidade no campo.

Neste dia, inclusive, é comum que as orações dos sertanejos nordestinos se voltam para o céu à espera de água para as colheitas e para a recarga dos açudes, apesar da data para celebrar São José ter sido instituída em 1621, pelo papa Gregório XV, sem qualquer relação, na época, com a meteorologia.

O que diz a meteorologia

O Diário do Nordeste, jornal com sede em Fortaleza, no Ceará, chegou a provocar a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) para entender melhor essa relação. Nos últimos 20 anos, de acordo com o órgão, na metade deles foi possível traçar um paralelo entre a incidência de chuva na data e boas colheitas, mas na outra metade, não.

A Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) explica que, por trás da crença, existe de fato um fenômeno natural. O Dia de São José é a data que o principal sistema meteorológico do Sertão, que é a Zona de Convergência Intertropical (Zcit), fica mais azul. Além disso, é justamente quando acontece o equinócio de outono, a mudança de estação do verão para a próxima estação, com janela para a incidência de chuvas.

Pouco interessados nas estatísticas, os sertanejos católicos se mantêm firmes na devoção. O Santo padroeiro é, para muitos, a única esperança de uma colheita próspera. Para a Arquidiocese da Paraíba, a fé nessa relação tem origem no fato de, há muitas gerações, serem realizadas, neste mês, as novenas em homenagem a São José, fato que coincide com as chuvas de março que fecham o verão.

É bem verdade que, no Brasil em geral, o principal Santo relacionado às chuvas é São Pedro. Na Igreja Católica, inclusive, ele é reconhecido como o guardião das “portas do céu”. Ou seja: cabe a ele controlar as águas que caem sobre a terra.

No sertão do Nordeste, entretanto, as habilidades de São Pedro são até reconhecidas, mas não há produtor rural disposto a contrariar a força de São José. Principalmente quando se trata da comemoração do dia dele, que é cheio de cenas cheias de emoção, que representam a esperança e a fé, que nunca costumam falhar.