Vacina renova esperança para o tratamento de dependentes químicos

Cerca de 20 milhões de pessoas no mundo usam cocaína e crack e 25% delas têm potencial efetivo para desenvolver dependência química. Os dados impressionantes são de um estudo recente realizado pelo Escritório das Nações Unidas (ONU) para Drogas e Crimes.

Porém, há uma luz no fim do túnel. Uma nova e promissora abordagem está surgindo, por meio do desenvolvimento, por parte de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Calixcoca – vacina que visa auxiliar no tratamento e na recuperação de dependentes químicos.

A iniciativa tem despertado o interesse da comunidade científica internacional.

Em estudo desde 2015, o imunizante oferece uma nova estratégia de tratamento, ao minimizar os efeitos da cocaína e do crack no organismo, o que representa um novo lampejo de esperança para quem luta contra a dependência.

Ensaios laboratoriais realizados com camundongos apresentaram resultados bastante promissores. O próximo passo é realizar testes clínicos com voluntários humanos. Uma solicitação será encaminhada à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com esse propósito.

Como funciona a Calixcoca?

O objetivo não é usar a vacina em desenvolvimento na Universidade Federal de Minas Gerais de forma preventiva, mas terapêutica, do mesmo modo que no tratamento de alergias, por exemplo, como explica a instituição de ensino e pesquisa.

A Calixcoca é desenvolvida a partir de uma molécula sintética que induz a produção de anticorpos contra a ação da cocaína e do crack ao ser injetada no organismo.

Os anticorpos produzidos pelo imunizante se conectam à droga consumida na corrente sanguínea do usuário. Impedem que ela atinja o cérebro e reduzem a compulsão pelo consumo.

“Demonstramos a redução dos efeitos, o que sugere eficácia no tratamento da dependência. Pensamos em utilizar o fármaco para evitar recaídas em pacientes que estão em tratamento, dando mais tempo para eles reconstruírem sua vida sem a droga”, explicou o pesquisador Frederico Garcia, da UFMG, em comunicado recente à imprensa.

Prefeitura de São Paulo fará parceria

Praticamente todas as semanas, os noticiários veiculam matérias sobre o problema da cracolândia, em São Paulo – reduto urbano de dependentes de crack, que se concentram na região central da capital paulista para consumir a droga.

A dependência química, na verdade, é um grave problema de saúde pública e a solução vai muito além da repressão policial por parte dos órgãos públicos.

A Prefeitura de São Paulo anunciou apoio à pesquisa dos cientistas mineiros e, caso seja realmente comprovada a eficácia da vacina em seres humanos, pretende adotá-la no enfrentamento do vício em cocaína e, principalmente, em crack, na tentativa de reduzir o consumo de drogas na cidade.

Alguns benefícios

• Prevenção a recaídas: ao bloquear os efeitos psicoativos das drogas, esse tipo de vacina pode ajudar a prevenir recaídas e oferecer uma camada adicional de proteção aos dependentes químicos em recuperação.

• Redução dos danos à saúde: a dependência química está associada a uma série de problemas de saúde física e mental. As vacinas podem ajudar a reduzir esses danos ao limitar a exposição contínua às substâncias nocivas.

• Auxílio ao tratamento convencional: as vacinas podem ser utilizadas em conjunto com outras formas de tratamento, como terapia comportamental e suporte psicossocial, o que melhora potencialmente os resultados gerais do tratamento.