Varíola dos macacos: cientistas respondem dúvidas da população

Varíola dos macacos: cientistas respondem dúvidas da população

Texto produzido pela Agência Escola UFPR

Por Leticia Negrello Barbosa
Sob orientação de Chirlei Kohls

 

Você já deve ter ouvido falar da “Varíola dos Macacos”. A doença atingiu diferentes pessoas e chegou ao Brasil. Considerada uma ameaça global, trouxe novamente o medo e os cuidados que se tinha durante a fase mais severa de Covid-19. 

Por isso, a Agência Escola da UFPR produziu um conteúdo especial para tirar as dúvidas da população sobre a doença. As perguntas são desde a forma de contaminação até À vacinação, e foram respondidas por cientistas da Universidade. 

Quem esclarece as dúvidas dessa edição são Lucy Ono, virologista e cientista do Departamento de Patologia Básica da UFPR; Alexandra Acco, cientista do Departamento de Farmacologia da UFPR; Emanuel Maltempi de Souza, pesquisador do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFPR; e Fernanda Cabral Bonato, mestre e doutoranda em Psicologia pela UFPR e especialista em Sexualidade Humana (FMUSP). Leia a matéria completa a seguir para conferir todas as perguntas da sociedade e as respostas dos cientistas.

 

“O que é a varíola dos macacos?”

(Simone, 53 anos, aposentada, São José dos Pinhais-PR; Simone Saldanha, 32 anos, dona de casa, Campina Grande do Sul-PR)

Emanuel Maltempi de Souza, cientista UFPR – A varíola do macaco é uma zoonose, ou seja, é uma doença causada por um patógeno que normalmente infecta um animal. Apesar do nome, o animal que é hospedeiro natural desse vírus não é um macaco, mas provavelmente um roedor africano. As pessoas afetadas com varíola dos macacos apresentam tipicamente erupções cutâneas que podem estar localizadas no corpo todo, incluindo genitais (pênis, testículos, vagina), ânus, mãos, pés, peito, rosto ou boca. Inicialmente, a erupção pode se parecer com espinhas, que podem ser dolorosas e apresentar coceira.

Os sintomas gerais podem ser febre, linfonodos inchados, dores musculares, dor de cabeça, sintomas respiratórios (dor de garganta, congestão nasal ou tosse), entre outros. Esses sintomas, que aparentam um quadro gripal, podem aparecer antes das erupções cutâneas, que são os pontos onde o vírus é multiplicado ativamente. Os sintomas da varíola aparecem em até três semanas após contaminação.

O paciente com varíola dos macacos pode transmitir desde o aparecimento dos primeiros sintomas até que as erupções tenham cicatrizado, o que pode durar até quatro semanas. Por isso, o isolamento mínimo para paciente com varíola dos macacos é de três semanas. Não há ainda nenhum tratamento específico para essa doença, em geral, estão sendo tratados os sintomas para permitir que o paciente se recupere.

Alguns antivirais estão sendo testados, mas não existe ainda uma recomendação de uso. A vacina contra a varíola é provavelmente eficiente para induzir a imunidade e tem sido utilizada para esse fim. A boa notícia é que a letalidade é baixa e o paciente geralmente se recupera bem. Pode haver complicações em pacientes imunocomprometidos, como infecções secundárias e pneumonia. Em alguns casos, a erupção pode ocorrer no olho causando cegueira.

 

“A varíola pega em outros animais?”

(Vitor Rocha de Almeida, 10 anos, São José dos Pinhais-PR)

Emanuel Maltempi de Souza, cientista UFPR – A varíola dos macacos é uma zoonose. Isso significa que é uma doença que normalmente acontece em animais, pulou a barreira entre espécies e passou a contaminar os humanos também. É demonstrado em laboratório que ela (a varíola dos macacos) pode contaminar outros animais como roedores, ratos e até porcos-espinhos.

O animal que normalmente tem esse vírus é um roedor da África, e não o macaco, por incrível que pareça. Animais domésticos também podem ser suscetíveis à varíola dos macacos. Foi demonstrado uma única vez o caso de um cachorro que teve varíola dos macacos, e isso aconteceu porque os seus donos, que estavam contaminados, costumavam dormir com o animal e ele pegou essa doença.

Por isso, se houver a chance que uma pessoa esteja contaminada, é importante não ter contato íntimo com o animal, isso significa passar a mão, beijar ou abraçar. E se o animal pegar, é necessário acompanhamento veterinário, isolamento de três a quatro semanas e provavelmente o animal não vai ter nenhum problema. Nunca se deve dar banho, higienizar com álcool e muito menos abandonar o animal ou tentar eutanásia. Os animais, assim como nós, podem estar suscetíveis à doença, mas temos que tomar os mesmos cuidados que tomamos conosco.

 

“Qual a relação da varíola com os macacos?”

(Elaine, 22 anos, recepcionista, Pinhais-PR)

Lucy Ono, cientista UFPR – Olá, Elaine! A varíola dos macacos recebeu esse nome porque foi descoberta em 1958 em macacos de laboratórios que estavam apresentando sinais semelhantes aos da varíola humana, ou seja, nódulos e lesões na pele.

Quando isso aconteceu, os cientistas começaram a pesquisar qual era o vírus responsável por aquelas lesões de pele em macacos e descobriram uma espécie nova: o vírus da varíola dos macacos. Os sinais e sintomas eram parecidos porque os vírus que provocam a varíola dos macacos e a varíola humana pertencem à mesma família.

Vários anos depois, em 1970, foi registrado o primeiro caso de pessoa infectada com o vírus da varíola dos macacos, e descobriu-se que, na natureza,  foi encontrado principalmente em algumas espécies de roedores selvagens, indicando que os macacos não devem ser o reservatório natural desse vírus.

No Brasil, não houve, até agora, a identificação de espécies de macacos na natureza que carreguem o vírus da varíola dos macacos.

É importante saber que os casos atuais de varíola dos macacos não estão sendo transmitidos pelos macacos para as pessoas, mas sim pela transmissão direta de uma pessoa infectada para outra. Sua pergunta é bastante importante para ajudar nesse esclarecimento, pois houve relatos de aumento no número de casos de agressões a macacos no Brasil, possivelmente por uma associação equivocada das pessoas entre o surto atual e os macacos.

 

“Como o ser humano foi pegar a doença do bichinho que estava lá no canto dele? O que o ser humano foi fazer lá no meio do mato com o macaco?”

(Ruthi Franco, 59 anos, autônoma, Fazenda Rio Grande-PR)

Lucy Ono, cientista UFPR – Olá, Ruthi! O primeiro caso relatado de varíola dos macacos em humanos aconteceu em 1970, em um bebê de 9 meses na República Democrática do Congo, no continente africano e, nesse caso, não foi possível determinar ao certo como aconteceu a transmissão de animais para pessoas.

Não há certeza também de que essa transmissão tenha ocorrido do macaco para pessoas, pois na natureza, muitos outros animais também podem carregar o vírus, como os roedores selvagens. Mas a principal suspeita na época dessa descoberta foi a da possibilidade (não confirmada) de contato com macacos mortos por meio da caça e consumo da sua carne.

A transmissão do vírus da varíola dos macacos de animais para humanos seria possível por meio da caça desses animais, no contato de pessoas com as lesões de animais infectados, bem como com o sangue ou fluidos desses animais, e consumo de carne e outros derivados de animais infectados que não estejam cozidos adequadamente.

No entanto, considero importante saber que os casos atuais que acontecem no Brasil e no mundo se devem à transmissão direta de pessoas para pessoas, sem o envolvimento de animais.

 

Existe a possibilidade de reinfecção?”

(Jonathan Rodrigues, designer, 36 anos, São Paulo-SP)

Emanuel Maltempi de Souza, cientista UFPR – Jonathan, essa sua dúvida é muito procedente, mas não temos ainda uma resposta definitiva. Porém, baseado no que sabemos sobre o gênero Orthopoxvirus, do qual faz parte o vírus da varíola dos macacos, é muito provável que a imunidade adquirida por infecção ou por vacinação dure a vida toda. Por exemplo, o vírus da varíola pertence a esse grupo e confere imunidade permanente.

 

“Como se pega a varíola dos macacos?”

(Simone, 53 anos, aposentada, São José dos Pinhais-PR)

Emanuel Maltempi de Souza, cientista UFPR – Olá Simone, Zenaide e Anuar. Essa é uma pergunta muito importante. A principal forma de contágio é o contato direto com material das erupções cutâneas e outros fluidos corporais (saliva, sêmen, secreção nasal etc.), ou contato indireto através de objetos (incluindo superfícies) contaminados, como roupa de cama utilizada por pacientes contaminados.

Embora na maioria das vezes a transmissão ocorra através de contato íntimo com uma pessoa contaminada, acredita-se ainda que o vírus possa ser transmitido também por via aérea pelos aerossóis e gotículas nasais e bucais, mas essa via de transmissão não parece ser a mais importante.

Os cuidados utilizados para prevenção da Covid-19 (uso de etanol, máscara, distanciamento social) são muito eficientes para evitar a contaminação. É importante lembrar que essa nova virose não é tão transmissível quanto a Covid-19. Na grande maioria dos casos relatados, a transmissão ocorre mediante contato direto com a pessoa doente.

“Já tem medicamento?”

(Zenaide, 64 anos, aposentada, Curitiba-PR)

“É difícil de curar?”

(Anuar Hannuch, 75 anos, aposentado, Curitiba-PR)

Alexandra Acco, cientista UFPR – Olá, Zenaide e Anuar. O tratamento de pacientes com varíola dos macacos é de suporte, dependendo dos sintomas. Vários compostos que podem ser eficazes contra a infecção pelo Ortopoxvírus, causador da varíola dos macacos, estão sendo desenvolvidos e testados, mas ainda não há medicamento antiviral específico para tratar esta doença.

Alguns antivirais administrados por via oral e promissores para o tratamento são brincidofovir e tecovirimate, mas ainda não há dados clínicos conclusivos sobre sua eficácia na varíola em humanos. O tecovirimate é um medicamento antiviral desenvolvido para tratar a varíola humana “original”, uma infecção grave e potencialmente fatal causada pelo Variola virus, um vírus do gênero Ortopoxvirus, o mesmo gênero ao qual pertence o vírus da varíola dos macacos. Para esta varíola, a terapia antiviral pode ser indicada em pacientes com doenças graves, imunocomprometidos ou nos quais a infecção se encontra em locais atípicos (olhos, boca) ou na área genital.

Entretanto, para a maioria dos pacientes o tratamento indicado é apenas de suporte. Por exemplo, o paciente deve ser bem hidratado, se estiver com dor de cabeça receberá um analgésico, se estiver com febre tomará um antitérmico e, fundamentalmente, deverá fazer a higienização das lesões, chegando à cura.

Há vacinas desenvolvidas para a primeira varíola que podem ser eficazes contra a varíola dos macacos, e outras vacinas estão em desenvolvimento. No entanto, a Organização Mundial de Saúde não recomenda, até este momento, a vacinação em massa, diferente do que ocorreu com as vacinas da Covid-19, que foram distribuídas mundialmente para controlar a pandemia da Covid-19.

 

“A vacina contra a varíola dos macacos é eficiente?”

(Henrique Closs, 72 anos, aposentado, Balneário Camboriú-SC)

Lucy Ono, cientista UFPR – Olá, Henrique! No momento (setembro de 2022), os cientistas ainda não possuem toda a informação necessária para dizer que as vacinas contra a varíola dos macacos têm alta eficácia, mas espera-se que elas confiram algum grau de proteção, o que certamente contribuiria para diminuir a taxa de transmissão do vírus e de casos graves da doença.

Lembrando que nenhuma vacina contra agentes infecciosos é 100% eficiente. Os dados sobre a porcentagem de eficácia dessas vacinas para a proteção contra a varíola dos macacos só poderão ser obtidos após a realização de testes clínicos em estudos que acabaram de ser iniciados.

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