Você já ouviu falar no método APAC de recuperação?

Você já ouviu falar no método APAC de recuperação?

Um sistema prisional sem guardas armados, no qual os próprios detentos são responsáveis pela disciplina e segurança. Parece impossível ou um mundo de fantasia? É exatamente esse o método APAC, aplicado em diversas unidades prisionais no Brasil, que oferece uma alternativa ao sistema convencional de encarceramento. Essa proposta coloca a dignidade humana no centro do processo de ressocialização dos detentos.

Inovador e surpreendente para muitas pessoas, o modelo que hoje conta com 70 “prisões abertas”, desenvolvido pela Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC), foi criado para humanizar o cumprimento de penas e reduzir a reincidência criminal. Com mais de 50 anos de história, foi reconhecido internacionalmente, inclusive pela Organização das Nações Unidas (ONU).

O método APAC surgiu em 1972, idealizado pelo advogado brasileiro Mário Ottoboni. O projeto teve início com o propósito de oferecer uma nova abordagem para o sistema prisional, diferente da superlotação e da violência que predominavam (e ainda predominam) nas prisões tradicionais. A primeira unidade experimental foi inaugurada em uma região serrana de Minas Gerais, mas foi na década de 1980 que o método começou a ganhar notoriedade, quando o Estado confiou a administração de um pavilhão de presos à APAC no presídio de São José dos Campos, em Humaitá, Amazonas.

Desde então, as APACs se expandiram pelo Brasil e por outros países, como Chile, Argentina, Paraguai, Costa Rica, México, Colômbia, além de países da Europa como Alemanha e Portugal. Mais recentemente, a metodologia foi adotada também em países africanos, como Malawi, Quênia e Ruanda.

Baseado na confiança e no respeito

Diferentemente do modelo prisional tradicional, nas unidades APAC, os detentos são chamados de recuperandos e têm a oportunidade de assumir responsabilidades. Não há agentes penitenciários armados e os próprios recuperandos cuidam da disciplina interna, com a confiança como um dos pilares desse sistema, a recuperação por meio do trabalho, da educação e da espiritualidade. O uso de atividades laborais e educativas propõe reconstruir a autoestima e preparar os recuperandos para uma reintegração social mais eficaz.

Em sua base, as APACs se comprometem em oferecer um ambiente seguro e acolhedor, no qual o respeito à dignidade de cada pessoa é o princípio norteador. É um sistema que acredita na capacidade de transformação de cada indivíduo, algo que se reflete nos baixos índices de reincidência em comparação ao sistema tradicional.

De acordo com a Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC), organização que coordena as APACs, o método tem 12 elementos fundamentais, entre eles o amor, a disciplina, o trabalho, e a religião. A FBAC destaca que são espaços onde os recuperandos têm a oportunidade de mudar suas vidas com base na educação, no trabalho e na reconciliação com suas famílias e a sociedade.

Outro aspecto destacado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) é o poder transformador da disciplina e do amor na recuperação dos condenados. O modelo tem reduzido os custos com o sistema prisional, humaniza o processo penal e cria um ambiente mais propício para a verdadeira transformação. Estima-se que a implementação de uma unidade APAC custa três vezes menos do que construir uma prisão convencional, e a manutenção de um recuperando em uma APAC também é significativamente mais barata.

Segundo a Federação Brasileira das APACs, “a metodologia consiste em tratar o preso como pessoa e não como animal na jaula; trata-se de uma mudança do coração”.

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