Por Padre Tiago Felipe Polonha, da Arquidiocese de Curitiba
Já faz algum tempo que assisti a esse filme no cinema e esperava com ansiedade para poder falar sobre ele. Agora o momento chegou. No início desse mês, ficou disponível no streaming essa grande obra-prima do cinema, considerado por muitos o melhor filme do ano: Godzilla Minus One. Esse foi o primeiro longa-metragem do Godzilla, em mais de 70 anos da franquia, a concorrer a um Oscar e foi a primeira produção de língua não-inglesa a ganhar o Oscar de Melhores Efeitos Visuais. Com toda a clássica calma japonesa, esse é um filme que, com certeza, surpreende todos os espectadores.
Aí você pode me perguntar: o que um filme sobre um monstro radioativo gigante pode nos ensinar sobre nossa fé? A resposta vem exatamente do maior triunfo da obra: vai muito além do monstro! A começar pelo título: Minus One! Nessa história do Godzilla, somos levados para o Japão pós Segunda Guerra Mundial, um país destruído pela guerra e pela explosão da bomba atômica. Uma nação devastada, que precisava se reconstruir e reconstruir também a sua esperança a partir do zero. Aí, no meio de toda essa desesperança, vem do mar o monstro gigante, mais uma vez destruindo o pouco do país que restou. Se já estamos recomeçando do zero, com Godzilla vamos para o “Menos um”. Daí o nome do filme.
É exatamente isso que veremos nesse longa: a luta contra o medo, contra o desespero, contra a falta de fé. O personagem principal que acompanhamos em Godzilla Minus One é o ex-piloto kamikaze Kōichi Shikishima. Logo no início da história, vemos esse piloto desistir de sua missão e se refugiar em uma ilha, com a desculpa que havia algo errado com seu avião de guerra. Nessa ilha acontece o primeiro ataque de Godzilla e ele acaba sendo o único sobrevivente. Voltando ao Japão e vendo seu país destruído, Kōichi começa a enfrentar a solidão e a agonia, sentindo-se culpado por ter desistido de sua missão inicial. A partir disso, Kōichi inicia, junto a alguns veteranos de guerra, uma caça ao monstro em busca de vingança e redenção.
Extremamente emocionante, acompanharemos o sofrimento desse ex-piloto e, mais que sua luta com Godzilla, participaremos também de suas lutas internas, principalmente a culpa que carrega consigo. Mas não se engane. Mesmo vendo esses traumas, a produção não perde o ritmo da ação eletrizante que um bom filme tem. Só que em meio a tudo isso, poderemos também nos aproximar de toda a dor e cicatriz que a guerra produz. Acompanhando isso por meio das dores de Kōichi Shikishima, podemos também olhar para dentro de nós, os traumas e cicatrizes, e nos sentir representados na luta desse personagem.
Godzilla Minus One é um filme que vai fazer pensar também nos nossos caminhos, na nossa missão e na nossa resposta. Nem sempre é fácil seguir a missão que Deus nos confia. Muitas vezes sentimos dentro de nós culpa por não sermos tão fiéis como gostaríamos de ser. Porém, Jesus nos lembra no Evangelho que não é ele que nos acusa. Quem gosta de nos acusar e rebaixar é o inimigo. Mas contra ele, Jesus nos envia o Defensor, o Espírito da Verdade que permanecerá conosco (Jo 14, 16-18). Jamais devemos desistir porque erramos. Precisamos voltar nosso olhar ao Pai, erguer nossa cabeça e seguir em frente, confiando na misericórdia infinita de nosso Deus. A Igreja e os Sacramentos estão aí para nos dar a certeza do amor e ternura de nosso Deus.
Que esse mesmo Deus nos abençoe sempre!
Godzilla Minus One
Takashi Yamazaki, 2023
Ação/Ficção Científica – 2h05
Disponível na Netflix
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