A fé em traços: conheça ilustradores católicos e seus trabalhos

Na infância, uma das principais formas de se comunicar é desenhando. Pesquisadores da área da educação reforçam essa afirmação sistematicamente, especialmente porque o desenho consegue criar uma ponte entre o mundo real e a imaginação. Com e por meio  das pinturas e rabiscos, são expressas as percepções do mundo. 

Ao mesmo tempo, para conseguir professar o amor e a fé existem várias maneiras. Há quem prefira rezar, quem goste mesmo de cantar ou conversar intimamente com Deus. Já outras pessoas gostam do silêncio, enquanto as demais optam pela multidão e influência direta pelas redes sociais. 

E você pode estar se perguntando: o que uma coisa tem a ver com a outra? E a resposta é muito simples: tudo! Isso porque, a fé e a espiritualidade também aparecem em desenhos e ilustrações. 

A relação entre as imagens e a religião não é recente. Pelo contrário, há séculos o ser humano encontra nas pinturas, esculturas e demais obras de arte um alento para sua fé em Deus. 

Em tempos de Redes Sociais e compartilhamento instantâneo de imagens, o IDe+ conversou com dois ilustradores católicos que você precisa conhecer. 

Felipe Rodrigues Freitas

Estudante de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal do Pará, Felipe Rodrigues Freitas é dono do perfil @artem_pax, com mais de 50 mil seguidores no Instagram. Aos 24 anos, é missionário da comunidade católica Cristo Alegria. 

Apesar de muito jovem, sua história com o desenho é ainda mais antiga. Desde 2012 ele desenha, embora explique que no começo os traços não eram nada parecidos com as atuais ilustrações. 

“De desenho em desenho os traços foram melhorando. Com o tempo, as formas e sombras eram bem nítidas e vivas nas artes”, conta Felipe.

A pandemia ajudou Felipe a se aperfeiçoar e mudar sua técnica. Do papel para o celular, ele conseguiu fazer os traços ficarem do jeito que ele queria. Em suas palavras, “Deus me dava um rumo novo a seguir”. 

Atualmente, sua página nas redes sociais alcança mais de 100 mil pessoas e é um sucesso entre quem ama ilustração. 

Ilustração de Nossa Senhora Aparecida feita por Felipe. Fonte: Arquivo pessoal

Desenhar, para Felipe, sempre foi uma maneira de alcançar pessoas. Mas não apenas com mensagens diversas, a intenção sempre foi ilustrar o belo da Igreja e:

“devolver à Deus a graça que Ele me concedeu de poder desenhar e ter aptidão para isso”. 

Como toda arte, as ilustrações de Felipe também passam por um processo de construção criativa. 

“Tenho como base a palavra, a liturgia, o calendário de festas e os Santos do dia. Com isso, consigo ter um cronograma do que postar e quando postar”. 

Ficou curioso para saber o que ele mais gosta de desenhar? A gente responde! Felipe gosta de trazer vida para versículos e capítulos. Faz isso com traços e cores, ilustrando toda a sua fé e amor por Deus. 

“Nossa igreja é rica em conteúdo. A palavra nos enriquece e ilustrar a palavra é poder ajudar as pessoas a rezarem e a meditarem o mistério do evangelho”.

Bernardo Ramonfaur Garza

Para chegar até Bernardo Ramonfaur Garza fomos mais longe que as fronteiras brasileiras. Isso porque, o professor universitário de arte e desenho é de Monterrey (México). Aos 39 anos, começou a desenhar há muito tempo. De acordo com o ilustrador, desde criança gostava de desenhar.

Bernardo Ramonfaur Garza é professor de desenho no México. Fonte: Arquivo pessoal

“Recordo que na escola ficava muito tempo desenhando. Depois, ainda na escola, aos sábados, fiz alguns cursos e oficinas de desenho na Universidade. Então estudei artes visuais e fiz o mestrado em desenho. Foi quando comecei a desenhar de uma forma mais profissional e converter o hobby em profissão”, conta. 

A religiosidade em suas obras veio quando ele tinha 22 anos, ao participar mais ativamente dos grupos da Paróquia de onde ele vivia. Sempre tinha a necessidade de um logo, poster, pinturas, etc. Assim ele começou a testar as aplicações que já sabia e que a Paróquia necessitava.

“As pessoas gostaram de alguns desses trabalhos, e então me pediram para ajudá-las com outras coisas. Foi assim que eu entrei, gostei e comecei a aprofundar. Pouco a pouco me pediram trabalhos de outras paróquias ou de outros lugares, e foi por volta de 2012 a 2014 que decidi me dedicar mais a isso, me dar mais tempo para isso”.

Foi exatamente assim que ele começou o Projeto Iknu no Instagram (@iknu.mx). Atualmente, grande parte do seu trabalho é sobre arte sacra e religiosa. “Gosto do fato de saber e sentir que o que faço colabora com a missão da Igreja, que ajuda outras pessoas a se aproximarem de Deus”. 

Ilustração feita por Bernardo. Fonte: Arquivo pessoal

Bernardo também comenta que, a partir desse trabalho, passou a conhecer pessoas do mundo inteiro. São colegas artistas e pessoas que gostam e compartilham suas obras, mas também as experiências de vida com o ilustrador. 

“Gosto de ver o meu trabalho em paróquias ou grupos de outros países. Fico feliz que o trabalho realizado está servindo desta forma”.

O processo criativo do mexicano é manual. Primeiro, desenha as imagens em rascunhos à mão, lápis e tinta. Só então transfere para o computador, adiciona cor e outros ajustes. A inspiração, para ele, está em outros artistas, cores, linhas, etc.  

“Existem vários artistas de arte sacra que acredito ter sido uma inspiração, como Frei Gabriel Chávez de la Mora, Efrén Ordóñez, entre outros. Também gosto muito da história da arte em geral, e me inspiro em vários artistas e movimentos, como certas características do cubismo, do expressionismo e até da pop art. De tal forma que eu leve apenas certas coisas e não toda a ideologia, mas certos elementos estéticos que eu gosto”, finalizou.

Ilustração feita por Bernardo. Fonte: Arquivo pessoal