Quando falamos sobre a humildade, não pensamos em felicidade de forma imediata. Mas, o caminho da humildade é a nossa única garantia de leveza e felicidade de forma cristã. O orgulho gera muitos pesos desnecessários, muita dor emocional e infelicidade, provocando o afastamento do cristão em relação ao bom caminho. Por ser um pecado capital, ele também nos afasta de Deus.
Sendo assim, precisamos cultivar a virtude da humildade na nossa jornada cristã se queremos mais felicidade e santidade. Ocorre que a humildade é o tipo de virtude que nunca será palpável, porque quem declara a sua humildade em voz alta já foi contaminado pelo orgulho.
O verdadeiro ser humano humilde de coração nunca saberá se possui essa virtude, mas há algumas “pistas” que indicam silenciosamente se estamos cultivando a humildade e se estamos no caminho certo. Confira as três pistas da humildade na sua caminhada!
“Pois todo o que se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado” (Lucas 14,11)
Se você não sente necessidade de aplausos, elogios e reconhecimento na sua jornada, isso significa que a sua consciência está tranquila e descansa na verdade de Deus com humildade.
Não ter necessidade de reconhecimento é um sinal de humildade, porque o seu coração vive com simplicidade e você faz tudo da melhor forma pelo amor ao bom trabalho em vez do reconhecimento.
Essa simplicidade de coração não significa que não sabemos ver a beleza das nossas potencialidades, mas apenas que não precisamos ser exaltados por causa delas. Quem realmente foi abençoado com potenciais e virtudes não é orgulhoso, pois enxerga a sua realidade com naturalidade e as suas qualidades como graças de Deus.
A autenticidade de um coração simples e genuíno também afasta a necessidade de competição nos ambientes profissionais e pessoais, pois quem sabe que o seu caminho é singular não precisa provar que é melhor do que qualquer outra pessoa. Todas as pessoas são filhas de Deus, têm potencialidades únicas e vivem o próprio caminho. Com essa consciência, sabemos que ninguém é melhor que ninguém.
Podemos enxergar o nosso valor, os nossos talentos e as nossas capacidades com uma autoestima alegre e saudável a partir disso sem contaminar a nossa alma com vaidades desnecessárias e desejos orgulhosos de exaltação. Quem vive sem necessidade de exaltação tem mais leveza, felicidade, consciência tranquila e humildade.
“Pois ele sabe do que somos formados; lembra-se de que somos pó” (Salmo 103,14)
Saber de onde viemos e para onde vamos é uma fonte de humildade. Por mais que tenhamos títulos, status, roupas, bens materiais e uma profissão aplaudida pelo mundo no meio do nosso caminho, nós fomos apenas um bebê frágil e despido na nossa origem e seremos somente pó no nosso fim.
Lembrar-se da morte não deve ser algo mórbido, mas um convite para o desenvolvimento da humildade na nossa jornada cristã. Sabemos que a morte não é o fim, porque temos fé na vida eterna ao lado Deus. Contudo, a morte representa o término da nossa realidade material e temporal.
Nesse sentido, essa consciência da finitude convida o ser humano a cultivar os bens eternos e as virtudes realmente importantes em vez de focar apenas no que é material e no que alimenta desejos vãos de vaidade. No fim da caminhada na terra, o que mais importará será a salvação da nossa alma e não o sucesso material.
Se refletirmos bem sobre a nossa origem e sobre o nosso fim, veremos que somos todos iguais nesses dois momentos e que ninguém é melhor do que ninguém por causa das conquistas materiais obtidas no meio da jornada da vida.
“Como saiu do ventre de sua mãe, assim nu voltará, indo-se como veio; e nada tomará do seu trabalho, que possa levar na sua mão” (Eclesiastes 5,15)
A lembrança do nosso nascimento também ajuda o nosso coração a acolher a humildade. Um dia, quando nós éramos bebês, nós tínhamos total dependência da nossa família, razão pela qual devemos honrá-la para sempre. Honrar pai e mãe é um mandamento de Deus que anda ao lado da humildade e da gratidão.
As memórias da nossa infância também aquecem o nosso coração e acendem a esperança. Jamais devemos perder o nosso coração de criança, pois a nossa inocência, a nossa pureza e a nossa salvação podem depender dele.
Você já entrou em contato com a sua “criança interior”, aquela chama de bondade e inocência que vive lá no fundo do seu coração mesmo se você for um adulto? “Todas as pessoas grandes foram um dia crianças. Mas poucas se lembram disso”. A frase citada é de Antoine de Saint-Exupéry, autor do livro “O Pequeno Príncipe”.
Muitas vezes, estamos preocupados demais em manter a seriedade, a formalidade da vida adulta e ocultamos a nossa espontaneidade por orgulho. Acontece que, diferentemente dos padrões de formalidade mundanos, a vida espiritual pede muito mais a espontaneidade de quando éramos crianças em muitos momentos.
Haverá situações em que Jesus desejará ver o nosso coração de criança para verificar se ainda carregamos a mesma pureza, a mesma simplicidade e a mesma sinceridade. Disse Jesus: “Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas”. Mateus 19:14.
A nossa criança interior não é orgulhosa nem deseja muitas conquistas materiais para ser feliz. Ela apenas quer “brincar” inocentemente na sua caminhada, ser feliz e sorrir. A nossa pureza e a nossa humildade podem ser resgatadas através da lembrança da criança que vive em nós para garantir a nossa doçura de coração.
Com ternura, vemos que a chama da esperança está sempre acesa dentro de nós. Quando perdemos o contato com a nossa criança interior, ficamos orgulhosos e amargos.
Santa Teresinha do Menino Jesus, doutora da igreja, ficou conhecida por ser um exemplo de humildade e pelo seu relato de “infância espiritual”, que significa uma jornada de santidade que coloca a pessoa como uma simples criança sob os cuidados de Deus. Nesse sentido, a pessoa não se desespera quando erra nem experimenta a vaidade quando pratica uma virtude. Santa Teresinha, modelo de simplicidade e ternura, revelou o sentido da infância espiritual em seus textos:
“Ser criança é ainda não atribuir a si própria as virtudes praticadas, acreditando-se capaz de alguma coisa; é reconhecer que o bom Deus coloca este tesouro na mão de sua criancinha para que ela se sirva dele quando precisar; mas é sempre o tesouro do bom Deus. Enfim, é nunca desanimar por causa de seus erros, pois as crianças caem com frequência, porém são pequenas demais para se machucar muito.”
Que, em 2023, nós possamos abandonar as mágoas e as amarguras do ano passado para resgatar a doçura, a esperança e a humildade da nossa criança interior. Um ano novo repleto de esperança, ternura e sonhos realizados.
Feliz 2023! Que Deus abençoe as jornadas de todos os leitores e colaboradores do IDe+.
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