Birra e o desenvolvimento da criança

Birra e o desenvolvimento da criança

A birra é o terror dos adultos! Muita gente olha de lado e até promete intimamente: quando eu tiver filhos, não vou deixar eles fazerem esse escândalo. Para essas pessoas costumo dizer: perdoe-se. Você não sabia o que estava prometendo.

A verdade é que a grande maioria das crianças, se não todas, vai fazer birras em algum momento do seu desenvolvimento, principalmente entre os 1 e 4 anos de idade. Enquanto, até bem pouco tempo atrás, esse comportamento era rejeitado pelos responsáveis e visto como malcriação, hoje já se sabe que faz parte do amadurecimento do cérebro e da evolução da comunicação da criança.

Até os 5 anos, a parte do cérebro responsável pelo controle das emoções não está pronta e, portanto, as manifestações serão mais violentas. Por outro lado, nessa mesma fase, também a fala ainda é um esforço enorme e difícil de organizar em momentos de nervosismo, fome ou cansaço. Nesses momentos, é como se o vulcão entrasse em erupção.

 

Como podemos então, de forma prática e respeitosa, minimizar esses eventos?

1. Evitar ou minimizar gatilhos: uma das formas mais eficazes de evitar birras é criar uma rotina que dê conta das necessidades básicas da criança. Isso vai fazer com que ela se sinta mais disposta a falar ou tentar se expressar de outras formas. Garanta a quantidade de sono necessária para a idade. Na fase da birra, a maioria das crianças dorme cerca de 12 horas por dia. Também observe se em algum horário a fome está sendo um gatilho e ajuste, inserindo um lache, por exemplo.

2. Não faça birra: se quando você fica frustrada(o), com a birra ou qualquer outra situação e grita com a criança, se descontrola, bate, ela vai considerar que esse comportamento é normal e pode seguir agindo assim. Adultos têm outras formas de birra também: deixar a pessoa (criança) falando sozinha, tratamento de silêncio ou ficar jogando na cara dos outros o que fizeram. A única forma de aprendizado dos pequenos é o exemplo. Cuidado com o seu comportamento.

3. Tenha regras claras para as situações. Uma das coisas que mais reforça a birra é mudar de ideia ou negociar para que a criança pare de chorar. Lembre-se que as birras são descontroles naturais e eles vão acontecer com qualquer criança. Você não precisa fazer ela parar na hora mas é importante aprender a lidar com o fato de que seu “bebê” agora tem opinião, se frustra e tem raiva. Tudo isso é absolutamente normal! Então, a regra deve ser sempre a mesma, com birra ou sem birra. Se, por exemplo, você disse que não vai dar um doce, não negocie o “só um pouquinho” porque chorou.

4. Não leve para o lado pessoal. Se você sentir raiva ou tiver impulsos violentos, lembre-se que a criança não faz isso porque quer, mas porque não consegue fazer diferente e não é nada pessoal.

E na hora da crise, o que fazer?

Se o caldo já entornou, vamos ao exercício de autocontrole, seu e da criança. É preciso ressaltar que, embora seja um comportamento absolutamente normal, isso não significa que é só deixar passar. Durante a maturação do cérebro da criança, é dever dos pais e educadores, permitir que a criança lide com esses sentimentos para que aos poucos, encontre suas próprias estratégias. Montei abaixo um passo a passo que vai ajudar a diminuir bastante a frequência e intensidade desses momentos.

  1. Se estiverem em local cheio, procure retirar a criança do centro das atenções. Vá para um local calmo para ajudá-la a se acalmar.
  2. Mantenha a calma. Se a criança vê que você está tranquila(o) pode se acalmar mais rapidamente.
  3. Não retenha fisicamente a criança. Estando em local seguro, solte-a e sente-se no chão ou em algum local baixo perto dela.
  4. Explique que vai aguardar que ela se acalme e que, se quiser, pode vir no colo, mas não fique insistindo.
  5. Aguarde. Ao começar a se acalmar, a criança deve procurar contato físico e você pode acolher, dar colo e explicar o sentimento a ela: eu sei que você ficou brabo/triste/etc. mas vou ficar com você até se acalmar. Não interessa quanto tempo dura a birra!
  6. Não diga que: não gosto de criança assim, não precisa(va) chorar assim, só vou falar com você se parar de chorar (chantagem), e outras frases na mesma linha. Acabada a birra, volte para as atividades com a criança.

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