Brigas e afastamento entre irmãos: como os pais devem agir?

Brigas e afastamento entre irmãos: como os pais devem agir?

Umas das mais conhecidas e emblemáticas narrativas bíblicas traz a discórdia entre irmãos como tema central: a história de Caim e Abel. Os filhos de Adão e Eva protagonizam o que viria a ser o primeiro assassinato entre homens que se tem notícia. 

Narrado no Capítulo 4 do livro do Gênesis, o drama de Caim e Abel é relatado no campo, em uma relação de ciúme que começa quando Deus reconheceu o presente oferecido por Abel e não exaltou o que foi ofertado por Caim. Furioso, Caim se volta contra o irmão e em meio a uma crise de ciúmes, comete o ato violento assim narrado na Bíblia: 

“E disse Caim a Abel, seu irmão, e sucedeu que, estando eles no campo, levantou-se Caim contra Abel, seu irmão, e o matou. (Gn 4,8)”

Deus fica furioso e indaga: “Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama por mim desde a terra. E agora maldito és tu desde a terra, que abriu a sua boca para receber da tua mão o sangue do teu irmão. Quando lavrares a terra, não te dará mais a sua força; fugitivo e vagabundo serás na terra” (Gn 4,10- 12).

Por misericórdia, Deus coloca em Caim um sinal para que todo aquele que o encontrar, não o machuque. 

Mesmo sendo uma das mais famosas histórias bíblicas, essa não é a única passagem sagrada que narra a desavença, o ódio, a ganância e a inveja entre irmãos. O tema também está presente em dramas vividos entre Isaac e Ismael e Esaú e Jacó. 

No entanto, o maior fratricida das escrituras é Abimeleque. Seu crime cruel é motivado não apenas por ciúmes, como também por sede de poder. Para se tornar rei, o filho de Gideão matou ou mandou matar 69 de seus 70 irmãos.

“Depois disso, veio à casa de seu pai, a Ofra, e matou os seus irmãos, os filhos de Jerubaal, setenta homens, sobre uma pedra. Porém Jotão, filho menor de Jerubaal, ficou, porque se tinha escondido. Então, se ajuntaram todos os cidadãos de Siquém e toda Bete-Milo; e foram e levantaram a Abimeleque como rei, junto ao carvalho alto que está perto de Siquém” (Juízes, 9, 5-6).

Apesar da barbárie, o reinado de Abimeleque não durou muito tempo. Três anos depois, ele morreu ao levar uma pedrada na cabeça. “Vendo, pois, os homens de Israel que Abimeleque estava morto, foram-se cada um para o seu lugar. Assim, Deus fez tornar sobre Abimeleque o mal que tinha feito a seu pai, matando seus setenta irmãos “(Juízes, 9:55-56). 

Como os pais devem agir em situações de conflitos entre irmãos?

Entre os tantos desafios da paternidade e maternidade, a educação dos filhos, com certeza, é uma constante. Eles crescem, se tornam independentes, mas ainda são reflexos da educação e dos valores que receberam em seu seio familiar. Dessa forma, nunca deixam de ser uma preocupação para seus pais, mesmo que sejam adultos. 

E você, que é pai ou mãe, deve estar se perguntando: se desde os primórdios as desavenças entre irmãos já ocorriam e não foram extintas, como nós, tanto tempo depois, devemos agir para combatê-las? 

Embora muitos séculos tenham se passado, a devoção ao Senhor, o cumprimento de seu mandamento de amor ao próximo e a vida fortalecida na fé ainda são caminhos valiosos para semear o amor, a paz e a união entre irmãos e famílias. 

Além disso, a educação de base, a construção de valores e a formação de caráter de cada um, deve ser fortalecida por meio da e da Igreja, ainda no início da vida. 

O casal Kamilla Kleine Ribeiro de Moraes e Douglas Pereira de Moraes atua na coordenação do setor pré-matrimônio Decanato Pitanga, região central do Paraná. Ambos ressaltam que os pais têm o papel de instruir seus filhos desde a infância, ensinar e orientar sobre o que é certo e errado. É essa postura que transmite valores e princípios que auxiliam na construção da personalidade e caráter de seus filhos. 

“Dessa forma, eles aprenderão desde a infância a dividir as coisas, a respeitar o próximo, ajudar nas tarefas domésticas, saber esperar, ter uma vida de oração, entre outros. Os pais são agentes formadores e seus ensinamentos contribuem para que brigas sejam reduzidas ou evitadas”, destacam. 

É preciso ter clareza, primeiramente, que em toda família existem desavenças e que, por muitas vezes, é comum não sabermos como lidar. Por isso, uma formação de caráter amparada em Cristo e em seus ensinamentos conduzirá a forma de lidar com as adversidades.

“Os valores ensinados na infância não se trocam ou se vendem. Eles se tornam sólidos de modo que se crie uma cultura familiar. Os pais devem sempre buscar ensinar a partir do diálogo, ouvindo ambos os lados e atuando como conciliadores para um aprendizado mútuo”, completam Kamilla e Douglas. 

Hoje, certamente, há ainda mais recursos e possibilidades de apoio àqueles pais ou irmãos que se encontram em situações assim do que havia na época das narrativas bíblicas. Por isso, o casal enfatiza a importância da vida em comunidade. 

“Temos vários instrumentos riquíssimos como o catecismo da Igreja Católica, conversa com sacerdotes, cursos e a exortação apostólica Amoris Laetitia, que auxiliam na vivência familiar. Isso tudo é uma forma de nos fortalecermos. Outra possibilidade também é  participar de movimentos e pastorais nas Igrejas, por meio dos quais aprendemos a trabalhar com certas situações cotidianas. Recomendamos a participação em grupos de reflexão, na igreja ou fora dela, para aprendermos constantemente a lidar com situações dentro e fora da nossa família”, sugerem. 

Outra possibilidade podem ser canais católicos – de pessoas leigas e sacerdotes – disponíveis na internet de forma paga ou gratuita. 

Kamilla e Douglas mostram formas de como os pais podem atuar nos conflitos entre irmãos

 

A família introduz a fraternidade no mundo

O  Papa nos lembra que a ligação fraterna tem forte presença na história do povo de Deus. Em uma fala repleta de sabedoria e paz, compartilhada em um discurso em 18 de fevereiro de 2015, quarta-feira de cinzas, Papa Francisco reitera a grandeza desse amor. 

“O salmista canta a beleza da ligação fraterna: ‘Eis como é belo e como é doce que os irmãos vivam juntos!’ (Sal 132, 1). E isto é verdade, a fraternidade é bonita!” (Papa Francisco, discurso em fevereiro de 2015). 

Muito além do convívio no círculo familiar, Papa Francisco nos mostra que quando a relação fraterna se destrói, ela abre caminhos para conflitos, ódio, traição, de uma forma que se propaga a outras relações com o mundo, por isso, o fracasso desse vínculo é ruim para toda a humanidade. 

“A ligação de fraternidade que se forma em família entre os filhos é a grande escola de liberdade e de paz. Talvez nem sempre somos conscientes disso, mas é justamente a família que introduz a fraternidade no mundo! A partir dessa primeira experiência de fraternidade, alimentada pelos afetos e pela educação familiar, o estilo de fraternidade se irradia como uma promessa sobre toda a sociedade e sobre relações entre os povos” (Papa Francisco, discurso em fevereiro de 2015).

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