Basta uma rápida conversa com Rafael Cristiano Paraíba para notar como o amor de Deus é seu impulso e base de todas as ações e decisões diárias. E assim é desde que “veio ao mundo’. Ele cresceu em um ambiente profundamente católico. Sua mãe trabalhava em um convento de religiosos dehonianos e desde cedo o jovem foi envolvido no contexto da Igreja, que se tornou uma segunda casa. Guiado pelo exemplo de pessoas como Padre Léo Pereira, fundador da Comunidade Bethânia, compreendeu que a vida dentro da Igreja poderia oferecer o apoio e a orientação que ele e sua família tanto precisavam. Essa convivência ajudou a formar o sentimento de seguir a sua vocação que, embora inicialmente tenha sido vida religiosa, acabou por dar espaço ao chamado leigo.
Rafael procura ouvir o Senhor para entender sua vocação e esse caminho nunca tem fim. Ele passou seis anos como religioso, aprofundou-se na oração e no conhecimento sobre si. No entanto, foi por meio dessa intimidade que constrói com Deus que percebeu que sua missão era como leigo. Hoje, ele dedica sua vida a levar uma experiência de Deus que humaniza, ajuda as pessoas a se conhecerem e a se amarem genuinamente.
Na Arquidiocese de Curitiba (PR), Rafael atua como articulador: coordena grupos de jovens e desenvolve projetos missionários. Inspirado pelas visitas a áreas atingidas por tragédias, como em Canoas (RS), trabalha para que jovens se tornem líderes conscientes e ativos na fé. Para ele, a missão leiga não é uma escolha própria, mas um chamado divino que precisa ser discernido com cuidado e sempre em oração. Em suas palavras, “rezar é saber dizer e também saber ouvir. É a relação com alguém que sabemos que nos ama, como diz minha amiga, Teresa de Jesus. Assim O vejo ressurgindo comigo todos os dias, a cada amanhecer”.
IDe+ | Conta um pouco pra gente sobre a sua história com a fé e sobre sua vocação.
RP | No início do casamento, diante das dificuldades naturais do início do matrimônio, meus pais puderam contar com o apoio e direção do Padre Léo, que foi uma referência bonita na história da Igreja no Brasil. Assim, compreendi que o ambiente de igreja pode ser também uma casa para quem precisa. Agora falando sobre vocação, a história é um pouco mais longa, afinal descobrir a vontade de Deus é um processo que leva a vida toda, visto que Ele tem grandes sonhos de amor para nós. O primeiro passo é o da aproximação com o Senhor. É preciso estar perto dele para entender quem é Ele e o que quer de nós. Na busca de um encontro profundo com a pessoa de Jesus Cristo, fui religioso durante seis anos. Ali, pude me conhecer mais profundamente e compreender que Ele me chamava, sim, a uma união profunda, mas não na vida religiosa. Algo bonito que posso destacar é que, quando nos aproximamos de Deus, acabamos por nos conhecer. O ser humano é como uma rede, toda interligada em seus níveis espiritual, psicológico, físico, enfim. E minha vida de oração me mostra todos os dias um pouco mais sobre mim. Também vejo sinais claros da providência divina me mostrando seus caminhos. Hoje sou realizado como leigo. Entendi que minha missão de vida é levar uma experiência de Deus que humanize e ajude as pessoas a se conhecerem para poderem se amar de forma genuína.
IDe+| Como leigo, como você procura colocar essa missão de evangelizar no centro?
RP | Hoje a Arquidiocese de Curitiba se organiza em setores e sou articulador de um deles. Meu trabalho é garantir que os grupos de jovens do meu setor estejam bem orientados, animados e dispostos a ser comunidade também com todos os outros grupos da cidade. Minha maior preocupação é ter jovens conscientes de sua própria realidade e convictos de que Deus habita em cada um. Assim, serão bons líderes para seus grupos. Elaboro algumas formações e momentos com eles para isso e também estamos pensando para a arquidiocese um projeto missionário juvenil, que abranja realidades necessitadas por aqui, que precisem ter sua dignidade humana respeitada, como morada de Deus. Esse projeto teve inspiração a partir de muitas das nossas visitas a Canoas durante a tragédia ocorrida em maio deste ano. Deus me coloca essas missões e eu sinto meu coração arder, como aqueles caminhavam com ele em Emaús. Não consigo negar muitas delas, mas sempre as coloco em oração para saber se vêm realmente de Deus ou se são algo meramente meu.
IDe+| Sobre as suas atividades profissionais, como você tenta conciliar com o serviço e com a sua fé?
RP | Ultimamente, tenho trabalhado profissionalmente neste contexto religioso e pastoral também. Sendo assim, consigo colocar em prática minha experiência de fé também no trabalho. Além disso, acredito no protagonismo da juventude dentro das ações que eu coordeno. Assim, minha função se torna mais de acompanhamento e desenvolvimento de lideranças.
IDe+ | Quais os seus planos e sonhos de vida?
RP | Meu maior projeto de vida é de gerar processos de humanização através da mística. Sendo assim, penso que todos os meus planos mais “práticos” tenham que estar vinculados com isso.
IDe+| Você tem alguma devoção especial?
RP | Tenho uma relação especial com Santa Teresa de Jesus. A Igreja tem muitas Teresas que foram santas. A maior parte delas se inspirou nesta que mencionei, inclusive a mais famosa, Teresinha do Menino de Jesus, a santa das rosas. Teresa de Jesus, ou como muitos conhecem, Teresa de Ávila, teve sua experiência de fé transformada pela humanidade de Cristo. Cristo humano se revelou na humanidade de Teresa. E sua humanidade me inspira e me motiva a discernir a graça de Deus na minha vida através do silêncio e da oração, conforme Teresa ensinou quando fundou 17 mosteiros por toda a Espanha durante o século XVI. Além disso, ela nos ensina que Deus é amigo. Um amigo que espera um olhar nosso e nos ama muito.
IDe+| Agora, sobre seu relacionamento com Deus, como procura fortalecê-lo e encontra uma maneira de ouvir o que Ele diz?
RP | Falei muito sobre minha vida acima. E falar da vida, no meu caso, é falar de relação com Deus. Aprendi com Teresa e João da Cruz que Deus quer se comunicar conosco sempre. E que Ele mesmo nos coloca em processos bonitos de discernimento. Poderíamos falar horas sobre os caminhos espirituais propostos pelos místicos. Mas resumo todo esse processo na experiência da Páscoa. Sim, rezar para mim é saber contemplar a vida com processos constantes de morte e ressurreição, escuridão e clareza, noite e dia. Ouço Deus na vida real e no silêncio no qual Ele me coloca sempre. Rezar é saber dizer e também saber ouvir. É relação com alguém que sabemos que nos ama, como diz minha amiga, Teresa de Jesus. Assim O vejo ressurgindo comigo todos os dias, a cada amanhecer.
A vocação leiga, celebrada em agosto, mês das vocações, é uma missão ativa que não requer Sagrada Ordenação ou votos religiosos, mas que é igualmente importante para a Igreja. Os leigos são fiéis batizados que, com fé e devoção, assumem a responsabilidade de tornar a Igreja mais presente e atuante na sociedade. Eles servem em pastorais, movimentos jovens e obras de caridade. Levam o Evangelho a lugares e a pessoas que muitas vezes não são alcançados pela presença sacerdotal.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) reforça que os leigos são chamados por Deus para assumir essa missão com amor e generosidade e contribuem para uma Igreja mais viva e inserida na realidade cotidiana.
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