Nomofobia: como a proibição de celulares nas escolas pode impactar estudantes

Nomofobia: como a proibição de celulares nas escolas pode impactar estudantes

A proibição do uso de celulares nas escolas já está em vigor no Brasil. E como isso impactará os estudantes que cresceram hiperconectados? O desafio vai além da sala de aula: especialistas alertam para a nomofobia, o medo irracional de ficar sem o celular – e seus efeitos na saúde mental dos jovens.

Nos últimos anos, a tecnologia se tornou onipresente na vida cotidiana, especialmente entre crianças e adolescentes que, muitas vezes, não conhecem outra realidade. O que é considerado um avanço tecnológico trouxe à tona a nomofobia e a dependência excessiva tem gerado desafios comportamentais, emocionais e educacionais.

Em resposta a essas preocupações, o governo brasileiro sancionou, em 13 de janeiro de 2025, a Lei nº 15.100/2025, que proíbe o uso de celulares e outros eletrônicos portáteis em escolas públicas e privadas durante aulas, recreios e intervalos. A medida visa conter os impactos negativos do uso excessivo desses dispositivos no ambiente escolar.

O professor Wilson Candido Braga, especialista em transtornos mentais em crianças e adolescentes, explica que a dependência de telas começa cedo, muitas vezes com bebês utilizando equipamentos eletrônicos como “chupetas digitais”.

“Quando nascem na era tecnológica, as crianças não têm modelos alternativos de comportamento em casa. Elas observam os pais constantemente conectados a seus celulares, o que desperta nelas um interesse precoce por esses aparelhos”, contextualiza.

Consequências

Essa exposição precoce pode levar a problemas físicos, como lesões por esforço repetitivo (LER), anteriormente associadas apenas a adultos.

“Hoje, é possível encontrar crianças com dedos e punhos travados devido ao uso excessivo de dispositivos touchscreen”, alerta o professor.

Além das implicações físicas, há consequências neurológicas significativas. A luz azul emitida pelas telas ativa áreas do cérebro relacionadas ao prazer – proporcionam uma sensação imediata de recompensa. Esse mecanismo é semelhante ao de substâncias viciantes, que levam à dependência comportamental. Quando privadas do acesso às telas, algumas pessoas podem experimentar sintomas de abstinência, como ansiedade, sudorese, taquicardia e até pânico – características típicas da nomofobia.

A implementação da nova lei nas escolas pode gerar desconforto emocional em alunos acostumados a depender desses aparelhos.

“Vamos enfrentar situações em que adolescentes poderão apresentar crises de ansiedade ou surtos emocionais devido à ausência do celular”, adverte Wilson.

Ele enfatiza a necessidade de suporte psicológico adequado nas instituições de ensino para auxiliar os alunos nessa transição.

A responsabilidade não recai apenas sobre as escolas. O especialista destaca o papel fundamental das famílias:

“Se a escola proíbe o uso do celular, mas em casa os pais permitem que os filhos passem horas seguidas diante das telas, estamos criando um paradoxo. A mudança precisa ser conjunta”.

A dependência de telas está moldando uma geração de indivíduos imediatistas, ansiosos e até agressivos quando privados dos equipamentos.

Oportunidade de resgate das conexões

A nomofobia reflete um problema mais amplo: a substituição de atividades reais pela ilusão de conexão virtual. Adolescentes têm preferido interações superficiais mediadas por aplicativos em detrimento de relações pessoais. Com a proibição dos celulares nas escolas, surge a oportunidade de resgatar formas mais autênticas de comunicação e aprendizado. Contudo, isso exige preparação tanto dos educadores quanto das famílias.

Braga prevê que, nos próximos anos, haverá um aumento nos casos de nomofobia e outros transtornos relacionados ao uso excessivo de tecnologia.

“Estamos criando uma sociedade hostil à espera e intolerante à frustração. As pessoas querem tudo mastigado, rápido e fácil, sem espaço para investigação ou reflexão profunda”.

Diante desse cenário, ele convoca pais, educadores e formuladores de políticas públicas a trabalharem juntos para encontrar soluções equilibradas, para que crianças usem a tecnologia de forma consciente, sem que ela domine suas vidas. O futuro depende da capacidade de encontrar um equilíbrio sustentável entre o mundo virtual e o real.

Para saber mais sobre a nova lei que proíbe o uso de celulares nas escolas, leia “Desafios e perspectivas da proibição de celulares nas escolas brasileiras”.

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