Vamos partir do fato que a teologia católica é clara na afirmação de que os animais não possuem alma, como os homens. Tão pouco estão destinados a ter uma existência espiritual, como os anjos. O que poderia nos levar à conclusão que os animais não podem ter participação no paraíso preparado por Deus para seus eleitos.
Entretanto, vamos apresentar uns argumentos que podem nos levar a concluir que os animais podem, sim, ir para o céu, que tem base na interpretação de alguns textos bíblicos dos apóstolos São Paulo e São Pedro, que tratam da “recapitulação” (em grego anakephalaiosis).
A recapitulação pode ser explicada como a redenção de todas as coisas por meio do sacrifício de Cristo na cruz. Nesta redenção universal da criação estão inclusos os animais. Interpretação que tem espaço nos comentários bíblicos de Santo Irineu e na teologia moderna com o arcebispo Dom Bruno Forte.
Passamos para o que nos dizem os textos bíblicos sobre o assunto:
Os animais são parte da criação de Deus e como tal são bons. Assim como afirma o livro o Gênesis “e viu Deus que era bom” (Gn 1,20-25) e é resumido no livro da Sabedoria “Vós amais tudo quanto existe e não tendes aversão a coisa alguma que fizestes: se tivésseis detestado alguma criatura, não a teríeis formado” (Sb 11,24).
Já São Paulo afirma o poder universal da redenção do sacrifício salvador de Cristo: “Porque aprouve a Deus fazer habitar nele toda a plenitude e por seu intermédio reconciliar consigo todas as criaturas, por intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus.” (Cl 1,19-20).
Afirma o apóstolo que a redenção vinda da cruz é de tal forma abrangente que chega a tudo e todos, sendo toda a criatura (incluindo aqui os animais) Nele redimida e partícipe assim da Sua glória. Exceção feita àquelas criaturas que providas de livre arbítrio (os homens e os anjos) escolhem por vontade própria se afastar de Deus.
Em sua carta aos Romanos São Paulo também trata da participação de toda a criação na glória dos filhos de Deus, o que leva a concluir que os animais também participarão do paraíso de alguma forma, diz o apóstolo:
“Por isso, a criação aguarda ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus. Pois a criação foi sujeita à vaidade (não voluntariamente, mas por vontade daquele que a sujeitou), todavia, com a esperança de ser também ela libertada do cativeiro da corrupção, para participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus.” (Rn 8, 19-21).
Podemos pensar também no texto de São Pedro, em sua segunda epístola: “Nós, porém, segundo sua promessa, esperamos novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça” (2 Pd, 3,13) no sentido de que todo o universo será renovado e será liberto de uma vez por todas de todos os vestígios do mal e da própria morte. Tal libertação tem um sentido amplíssimo, nesta nova criação, na qual “se renovam todas as coisas” (Ap 21,5) também estariam os animais.
Por fim, vale lembrar que a ética cristã é categórica ao afirmar o respeito que devemos ter com os animais. O Papa Francisco nos exorta a esse cuidado:
“Entretanto, não basta pensar nas diferentes espécies apenas como eventuais ‘recursos’ exploráveis, esquecendo que possuem um valor em si mesmas… Por nossa causa, milhares de espécies já não darão glória a Deus com a sua existência, nem poderão comunicar-nos a sua própria mensagem. Não temos direito de o fazer.” (Laudato Si, 33).
Assim sendo, se esperamos compartilhar na eternidade da alegria junto a Deus e toda a criação redimida, temos que ter como princípio o cuidado e respeito com toda a criação desde já.
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