A verdadeira oração é uma lembrança de Deus, frequente despertador da “memória do coração” (CIC 2697). A oração é fruto da vida, é um filho que fala com seu Pai dos cansaços, das conquistas e frustrações, alegrias e tristezas, êxitos e fracassos. E o elemento essencial para a oração é um coração humilde e contrito. A condição necessária para receber gratuitamente o dom da oração é colocar-se como disse Santo Agostinho, ser um “mendigo” de Deus.
Quando os discípulos pediram: “Senhor, ensina-nos a orar” (Lc 11,1), Jesus ensinou-lhes a oração do Pai-Nosso.
Dois Evangelistas narram o Pai-Nosso. Lucas de uma forma mais breve, com apenas cinco petições (Lc 11,1ss). Mateus de forma mais longa, com sete petições (Mt 6,9ss), o qual usamos para nossa oração.
O “Pai-Nosso” é chamado oração dominical e oração do Senhor, porque não foi uma oração feita por mãos humanas, mas uma oração revelada pelo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo.
A primeira parte do “Pai-Nosso” é, na verdade, um pôr-se na presença de Deus nosso Pai. A segunda parte são as petições em relação a nossas necessidades.
Rezar: “Pai-Nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha a nós o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”, é pôr-se na presença de Deus Pai para adorá-Lo, amá-Lo e bendizê-Lo. Essa primeira parte é uma louvação, uma adoração e uma declaração de amor.
Chamar Deus de Pai, Pai-Nosso, aqui vale a pena ressaltar algo, porque Nossa Senhora certamente ensinou Jesus a recitar os Salmos, que fazem parte da liturgia orante dos judeus. São José deve tê-lo ensinado a cantar “Shamai Israel”, mas tem algo particular na vida de Jesus. Lembremos que aos doze anos o próprio Jesus disse à sua mãe: Não sabeis que devo ocupar-me com as coisas de meu Pai?” (Lc 2,49). Portanto, já com 12 anos, Jesus supera a tradição judaica. Ele não se refere a Deus como Javé, El Shaday ou Senhor dos Exércitos. Ele deixa a antiga tradição e já começa a chamar Deus de Pai.
Ao ensinar os Apóstolos a rezar Jesus começa com Pai; isso demostra que essa palavra já tinha sido elaborada, já fazia parte do cotidiano, já tinha sido internalizada. Ele verbaliza aquilo que a sua filiação já sentia.
Segundo São Tertuliano, o Pai-Nosso é, na verdade, o resumo de todo o Evangelho. Nele Jesus revela sua relação com o Pai. Na estrutura, nas petições dessa oração, Jesus coloca a ordem e os valores das coisas que devemos pedir. São Mateus, propositalmente dispõe o Pai-Nosso em seguida as Bem-aventuranças, porque só seremos bem-aventurados, de fato, se vivermos as bem-aventuranças. É como se fosse uma necessidade rezarmos o Pai-Nosso para sermos bem-aventurados.
Chamar Deus de Pai é uma ousadia filial e Deus quer que sejamos ousados como filhos, porque o filho não tem medidas, ele pede, implora, chora, grita, esperneia, mas não desiste. Somos autorizados por Jesus a ter essa ousadia, pois não estamos nos relacionando com um Deus abstrato ou distante. Jesus estabelece uma relação íntima, entre nós e o Pai.
Pai-Nosso que estais nos céus é, sem dúvida, um apelo de conversão de vida, porque chamar Deus de Pai, Pai-Nosso, nos coloca numa atitude de nos parecermos com Ele. Quando Jesus diz: Pai-Nosso e não Pai meu, Ele quebra toda e qualquer possibilidade de exclusão do outro no processo da salvação. Ao rezarmos “Pai-Nosso”, nós entramos em profunda comunhão com todos os irmãos crentes ou não crentes, com aqueles que já encontraram Deus e com aqueles que não O encontraram ainda. Incluímos os justos e pecadores. Então, dizer Pai-Nosso é sair do individualismo. É compreender que o amor de Deus é sem fronteira e nossa oração também deve ser assim.
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