“A sua benção, vó” – O amor de avós e netos

“Sua benção, vó”.

Esse cumprimento, cheio de significados, é tradição para muitas famílias brasileiras. A benção, que costuma vir carinhosa logo após o pedido que elas tanto querem ouvir, é a entrega de amor e proteção àqueles de quem são “mães duas vezes”. A resposta –“Que Deus abençoe” – afinal, é tudo que elas mais desejam para os seus netos.

Em Mossoró (RN), benção é praticamente sinônimo de Dona Áurea Anselmo, que partiu para a vida eterna em 2020, aos 95 anos. Era só ver aquela figura tão querida, com seu caminhar pacífico, olhar sereno, e terço nas mãos, para as pessoas da cidade irem pedir a sua benção. Mas foi exatamente aos incontáveis netos que ela dedicou ainda mais a missão de evangelizar.

A oração diária do terço na área externa da casa tinha uma certeza: ninguém saía e todo mundo podia entrar para o momento. Todos os outros compromissos podiam esperar. Esse, não. São lembranças compartilhadas por uma das netas, a advogada Marcília Lima. “A fé dela sempre foi muito viva. Ela não apenas nos levava para a igreja ou chamava para a oração. Era o amor dela, tão forte e cristão, que também nos influencia nesse caminho e deixa a certeza de que tudo que ela nos ensinava sobre a vida e sobre Deus é o que queremos seguir para sempre”, lembra a neta.

Todo o empenho para encaminhar os seus deu certo. A família, bastante numerosa, continua com fé em tudo que foi ensinado e vivido pela matriarca devota de Santa Luzia, que é a padroeira da cidade. As Santas Missas e buscas por conhecimento sobre a palavra de Deus fazem parte da rotina de todas as gerações de netos e bisnetos, ainda que cada um tenha seus hábitos, profissões e até cidades diferentes.

“Por tudo que ela ensinou, naturalmente, já ficamos juntos sempre que alguém precisa e procuramos fazer exatamente como ela faria diante de uma situação, que era apoiar e espalhar esperança e confiança Deus, em Sua vontade”, reforça Marcília.

Além dos compromissos com a fé católica e a Igreja, “Arú”, como era carinhosamente chamada, ensinou a importância do serviço, na comunidade e na família. Então, se um neto ia começar a catequese, todos os membros precisavam participar e dar apoio. Assim era na Crisma, casamentos, batizados e todas as cerimônias. “Ela sempre tratou com o respeito necessário e também com muito capricho e carinho. Queria sempre que fosse um momento bonito, especial, que a gente entendesse o significado espiritual e que aquela ocasião promovesse a união da família”, recorda Marcília.

De Mossoró para Salvador (BA), a avó Maria Nalva Cafezeiro Argolo tem 95 anos de muitas histórias, especialmente com seus netos, que ajudou a criar, e tem participação especial no direcionamento da fé. A neta Maria Helena Argolo, advogada e jornalista, confirma: “a fé dela é vida. Todos nós aprendemos com minha vó o valor elementar da caridade, do amor ao próximo”. E sua confiança em Deus e ensinamentos de Jesus são presentes das tradições litúrgicas a como viver o dia a dia em comunhão.

Irmão de Helena, Vitor Cafazeiro, que hoje mora distante fisicamente da avó, no estado de Goiás, onde é servidor público, compartilha como a sua base é importante e molda, inclusive, o senso de justiça de toda família.

“O cristianismo para mim é toda minha base da educação e aspecto moral. Ainda hoje, é muito forte, dentro de mim, a questão de rezar e ter fé. E penso que tudo isso parte de uma estrutura que teve como base a minha avó”, contou.

Ao falar sobre o que sente quando vê que os netos seguiram seus passos na vida cristã, a sorridente avó demonstra todo seu contentamento. “Passei tudo para os filhos e para os netos também. Fico contente que eles não esqueçam”, comenta.

Vitor também lembra que a sua outra avó, Ziza, sonhava que ele se tornasse padre, mas disse que diácono ‘já estava bom’. “Quem sabe um dia não viro diácono em homenagem a minha vó Ziza?”. Com certeza, as duas avós abençoam essa ideia com gosto. Quem tem dúvida?