Estudantes criam canal para conectar mulheres negras a oportunidades na área de comunicação

Estudantes criam canal para conectar mulheres negras a oportunidades na área de comunicação

Fotos da matéria: Divulgação Quebra | Amanda Mattos e Kauana Martins

Na hora de fazer o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), universitários se veem entre questões como prazos, o que é possível ou aquilo que os move e pode impactar a sociedade – caminho por vezes mais difícil, mas certamente mais recompensador, e não só para os seus autores. Foi exatamente essa a escolha de Kauana Martins, Amanda Mattos, Beatriz Sarnowski e Isabela Bertoldi, que concluíram o curso de Publicidade e Propaganda em Curitiba, em dezembro de 2022.

O grupo reuniu vivências, conhecimento técnico e a realidade de um mercado que se mostrou injusto, em números e em histórias de vida, e criou o “Quebra – Comunicação que Constrói”, projeto empreendedor que funciona como um canal facilitador entre o mercado de comunicação e profissionais negras da área. No “Mês da Mulher”, elas planejam os próximos passos da ideia que busca transformação ativa.

Criadoras do “Quebra” e o professor que orientou o trabalho, Dr. Filipe Bordinhão dos Santos

 

O projeto, que deve em breve ser um produto disponível no mercado, de acordo com o desejo das suas criadoras, ganhou o prêmio de Destaque do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Positivo em 2022 e recebeu do Senado Federal um voto de aplauso proposto pelo senador Flávio Arns. 

Para chegar a esse reconhecimento, o grupo passou por diversas etapas, entre as partes teórica e prática, que envolveram levantamento de dados, pesquisas de campo, entrevistas, publicações científicas, sessões de fotos, criação gráfica e todos os itens para criar um produto com conceito e relevância.

A publicitária Kauana Martins conta algumas especificidades do processo, como ter sido todo escrito pelas quatro integrantes – e não separados, em um formato que cada uma escreve uma parte, como é mais comum.

“Somos duas meninas negras e duas meninas brancas, com vivências diferentes, em uma soma para construir algo relevante, que impacte as profissionais e também as empresas que querem ser mais igualitárias e estão abertas a promover essa mudança de uma maneira qualificada, com capacitação, em um ambiente agradável e justo para essas mulheres”, comentou.

 

Igualdade para quem?

A primeira etapa do projeto foi a pesquisa e elaboração da monografia “A mulher negra líder no mercado publicitário: atravessamentos de gênero e raça dentro das agências de publicidade de Curitiba”. Orientada pelo Prof. Dr. Filipe Bordinhão dos Santos, falou sobre o papel de liderança de profissionais racializadas nas agências da cidade. Como conta as autoras, elas encontraram um cenário de falta de dados a respeito da presença da mulher negra no mercado de comunicação.

Além disso, ao buscar as empresas para entender se há profissionais negras em seus quadros, poucas foram as que aceitaram participar da pesquisa e dialogar sobre o tema. Das dez agências contatadas – selecionadas a partir dos dados do Sistema CENP-Meios como as maiores da capital do Paraná – quatro responderam.

Uma resposta que as marcou foi que “não havia necessidade de criar políticas ou ações de contratação porque lá eram todos iguais”. Perguntada sobre quantas mulheres negras então faziam ou já fizeram parte da equipe, a resposta foi: nenhuma.

Nessa etapa, também aconteceram as entrevistas com cinco publicitárias negras para entender as nuances e vivências na profissão. Algo em comum era o sentimento de ser “o único negro” do lugar, ou seja, sempre exceção, assim como de não atingir papel de liderança.

A monografia rendeu um artigo científico publicado na revista Ação Midiática.

 

“Quebrar o velho, romper ciclos. O começo de novas histórias”

O conceito criativo do projeto, “Quebrar o velho, romper ciclos. O começo de novas histórias”, explica a sua existência. Após a etapa teórica, era hora de contribuir para mudar a incômoda realidade – para as mulheres negras na comunicação de Curitiba e também para toda a sociedade.

“Projetos como este têm a capacidade de gerar impactos mais significativos do que se imagina, pois diz para outras mulheres que elas podem sonhar, que são possíveis também. No entanto, a ideia do Quebra não é ficar apenas no campo do imaginário, mas oferecer o suporte e ferramentas necessárias para fomentar a inclusão de forma plena”, como explica Amanda Mattos.

Para a elaboração da plataforma facilitadora que vai conectar mulheres negras da comunicação às empresas, 33 profissionais responderam às perguntas. A ideia é também capacitar e reconhecer as ações de empresas que utilizem o Quebra por meio de selos com diferentes níveis de implementação.

Alguns dos serviços disponibilizados serão: acesso ao banco de talentos, sistema de apadrinhamento (podem financiar qualificação de mulheres negras), o programa de treinamento “Edifica” e um evento de compartilhamento de ações e ideias.

Promover a diversidade e inclusão nos espaços de trabalho é um dos propósitos do Quebra. Diferentemente da etapa inicial sobre as profissionais negras que fazem parte do quadro de colaboradores, as criadoras do projeto encontraram um cenário promissor em relação às empresas dispostas a mudar essa realidade e promover mais equilíbrio. “Todas falaram que gostariam desse tipo de serviço e que seria muito útil”, comenta Kauana.

Além de concluírem o curso com aplausos oficiais do Senado, as agora publicitárias mostraram como o incômodo, quando trabalhado com um olhar transformador, pode ter como resultado boas coisas não apenas para elas – mas para o coletivo.

“Participar da construção do Quebra foi um trabalho denso de pesquisa, escuta e muito aprendizado. Escancara o que milhares de mulheres vivem todos os dias. E precisa ser encarado, realmente, como uma mudança urgente e necessária”, reforçou Beatriz Sarnowski.

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Comentários

  • Delnebio P. MARTINS
    Sensacional! Um conteúdo com informações de extrema relevância para o público em geral e principalmente p. QUE ESTÁ NO RAMO DA PUBLICIDADE. ADOREI, APOIADO MENINAS. #VIDAS NEGRASIMPORTAM.

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