Viver apesar de sentir saudades de quem se foi

Viver apesar de sentir saudades de quem se foi

O título desse texto remete a uma afirmação um tanto intrigante, quiçá dúbia, utópica, talvez muito genérica e redundante. Contudo, bastante plausível. Concorda?

Fato é que, se não todos nós, mas pelo menos muitos de nós, estamos vivendo esse “apesar de” sentir saudades de quem se foi. Ora, “apesar de” sofrer o luto, “apesar de” precisar desprender da cultura do desapego, “apesar de” conviver com a negação e todo o pessimismo que uma situação dolorosa pode nos trazer, precisamos sim continuar vivendo e seguindo adiante.

Veja, caro leitor, a qualidade com que podemos encarar os desafios nos coloca em um patamar diferente. Se não encararmos um combate com autoridade sobre nós mesmos, domínio e valentia em nossos passos, não conseguiremos sair vitoriosos da luta. Ou seja, a qualidade da força que iremos empregar definirá o tipo de guerreiros combatentes que seremos. Dessa forma, a depender do ponto de vista da escalada da montanha é que conseguiremos alcançar determinados obstáculos – ou não. Não é mesmo?

No exemplo mais coeso sobre a definição do contrato social, o livro intitulado Leviatã, escrito pelo filósofo Thomas Hobbes (1588 – 1679) ob., menciona que “o homem é o lobo do homem”, trazendo à tona a metáfora de que o homem é seu próprio animal, ou seja, é o lobo de si mesmo, sendo, pois, o seu próprio predador. Pegando emprestado esse entendimento, podemos considerar que somos nosso próprio animal quando, caso não venhamos a nos cuidar, nós mesmos formos os primeiros a nos maltratar.

Assim, o fato de viver com a latente frase “apesar de”, pode não ser de um todo tão “pesada” e demasiadamente ancorada em si mesma, quando passamos a imaginar que estamos a nos cuidar ao aceitarmos determinadas condições, como a saudade de quem se foi. Ao passo que deixamos de lado a negação e chegamos até a fase da aceitação, o “apesar de” se torna mais real, palpável, dolorido ainda, é verdade, porém, necessariamente aceitável para que se viva com paz.

Sim, querido saudosista, é bem difícil viver e continuar vivendo apesar de toda a saudade. Mas entenda, como muito sabiamente nos deixou esclarecido a escritora Clarice Lispector (1920 – 1977) ob., em sua obra A Hora da Estrela: “Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente.”

E mesmo que toda a lembrança pareça lhe sufocar ou aterrorizar, quero lhe lembrar de uma imensa verdade, a qual posso lhe afirmar com forte e grande exatidão: a saudade se transforma! Deus, em sua infinita bondade, nos dá esse consolo.

Em João 11, 25-26, Jesus diz: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, nunca morrerá.”

Em 1 Tessalonicenses 4, 13-14: “Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que dormem, para que não vos entristeçais, como os demais que não têm esperança. Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus trará, mediante Jesus, aqueles que dormem.”

Com isso, Deus nos conforta e nos acalenta ao nos mostrar constantemente que essa vida é uma breve passagem, um caminho, uma missão para nossa vida eterna, a verdadeira vida, que é ao lado Dele.

Nos lembremos de sermos merecedores do Céu e, para isso, um grande passo, além de seguirmos os mandamentos Dele, é o de não julgarmos os outros, mas de rezarmos pelos nossos irmãos, tanto os que estão aqui, quanto os que já se foram, por aqueles que estão em busca de seu caminho, e pelos que estão sofrendo no purgatório. Viver, apesar de sentir saudades de quem se foi, também pode se dar através do caminho da oração.

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