Santa Dulce: “o que é de Deus permanece para sempre”

Santa Dulce: “o que é de Deus permanece para sempre”

13 de agosto, é o dia da primeira santa brasileira: Santa Dulce dos Pobres. Irmã Dulce nasceu Maria Rita, em 26 de maio de 1914, em Salvador, na Bahia. Filha de um dentista e advogado, Maria Rita perdeu sua mãe, Dona Dulce, aos cinco anos de idade. Sua educação ficou, então, a cargo de duas tias, além do pai.

De família muito católica, Maria Rita herdou de seu avô uma imagem de Santo Antônio, do século XIX, e também a sua devoção. Diante dessa imagem, ela sentiu a força do chamado e o desejo de servir ao Senhor. Aos 13 anos pediu, pela primeira vez, para ir ao convento. Escreveu, inclusive, ao de Santa Clara do Desterro, em Salvador, que a recusou, por acreditar ser ela jovem demais. Aos 18 anos, Santa Dulce entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em Sergipe, tornando-se Freira em 13 de agosto de 1933, quando passou a adotar o nome de sua falecida mãe e também de sua querida irmã, Dulce.

Sua dedicação aos pobres a levou, desde muito cedo, a ir em socorro dos doentes e necessitados. Arrombava casas vazias da cidade para recolher, ali, as pessoas que agonizavam pelas ruas, tendo depois passado a acolhê-las no galinheiro do convento. Com doações e muita persistência, Irmã Dulce transformou o galinheiro em um albergue, e depois na Associação hoje conhecida como Obras Sociais Irmã Dulce.

Apesar de ser muitas vezes ajudada por pessoas poderosas, Santa Dulce sempre disse quem era a pessoa mais importante entre as envolvidas na sua Obra: “o meu pobre”. Márcio Didier, gestor do Complexo Santuário Santa Dulce dos Pobres, nos contou que a santa podia deixar políticos e doadores esperando por ela se alguém necessitado batia à sua porta: “neles, ela enxergava Cristo”.

Ela faleceu em 13 de março de 1992, aos 77 anos.

A doçura de Irmã Dulce tem muitas forças. Quatro pilares, entretanto, são claros ao longo da sua história, capazes de nos inspirar pelo amor, pela obstinada e firme, pela persistência em executar a Obra e anunciar o amor de Deus entre nós: “Essa obra não é minha, ela é de Deus. E o que é de Deus permanece para sempre”, dizia.

Foto: OSID/Acervo

Dulce Lar: o valor da família

A caridade em Santa Dulce tem berço na sua própria relação familiar. Seu pai, na sua infância, tinha o costume de fazer palestras beneficentes, após as quais recolhia donativos, que levava aos mais pobres. As suas tias, desde muito cedo, faziam questão de mostrar à pequena Maria Rita a realidade daqueles que sofrem.

A menina alegre, que gostava de brincar com a sua boneca Celica, de correr na rua, de fazer guerra de mamonas com os irmãos, jogar futebol e de ir aos jogos do Ypiranga com seu pai, foi, pelas mãos de uma das tias, conhecer as pessoas que passavam fome nas ruas de Salvador. A experiência impactou Santa Dulce de forma definitiva. Aos 13 anos, começou a atender pessoas em situação de rua, oferecendo a elas seus cuidados, alimento e curativos.

Com o consentimento da família e o apoio de sua irmã e companheira fiel, Dona Dulcinha, a menina transformou a casa da família, no bairro de Nazaré, em um ponto de acolhimento de pessoas necessitadas. O portão da casa ficou conhecido nos arredores como o “portão de São Francisco”, pela semelhança com a história do jovem de Assis.

Ao manifestar o desejo de ir ao convento e após a sua recusa pela pouca idade, Maria Rita, filha obediente, atende ao pedido do seu pai de que, antes de fazer a sua escolha, ela tivesse uma profissão. Aos 18 anos, então, ela se forma normalista, reiterando em seguida a certeza da sua vocação e entrando para o convento.

O amor e o respeito da jovem Maria Rita pela família eram imensos. Nesses laços, ela via Deus, porque era na família que ela aprendia sobre o amor. Essa também foi a razão pela qual ela levou consigo para o convento um resquício da sua vida familiar: a sua antiga boneca Celica.

Mas Irmã Dulce teve que se desfazer da boneca: as Irmãs lhe explicaram que, tendo feito uma opção por Cristo, a sua família agora é a família de Cristo. Esse foi o primeiro sacrifício da jovem – separar-se das origens e entregar-se completamente a Jesus.

Na Obra, entretanto, Irmã Dulce vai estar sempre cercada pela família: a de sangue e a que adotou para si. Seus pobres, seus filhos do orfanato, sua irmã inseparável e, finalmente, sua sobrinha, Maria Rita, a sucessora que ela escolheu para suas obras sociais.

Foto: OSID/Acervo

Dulce Obra: a visão à frente do seu tempo

Irmã Dulce, ao atuar na obra, demonstrava a todos enxergar anos à frente do tempo presente. Foi, por exemplo, uma voz feminina forte, ao enfrentar o machismo da época, andando pelas ruas para acolher excluídos, inclusive à noite, sem medo de críticas ou julgamentos.

Na área de saúde, Santa Dulce foi inovadora, estimulou o atendimento ao paciente de forma humanizada.

“Ela dizia que não acolhia a pessoa só pelo problema físico, mas que ela sabia que aquilo também vinha de uma dor espiritual, e que causava problemas também mentais, psíquicos. O abraço dela de acolhimento a essas pessoas era sempre quanto a essas três coisas”, conta Márcio Didier.

Quando ela fundou o Círculo Operário da Bahia (COB), ao lado do seu mentor, o Frei Hildebrando Kruthaup, voltou seu olhar para as famílias dos operários quando ainda não se falava em direitos trabalhistas ou em normas de saúde e proteção ao trabalhador. Ela começa a oferecer cursos de alfabetização, de corte e costura e de datilografia para as mulheres e filhos de operários. Para financiar o Círculo, organizou um cinema, cuja renda era revertida para os cursos.

“Quando saía para resolver alguma coisa, ela tinha uma determinação absurda: só voltava quando conseguia”, nos conta o gestor do Santuário.

A vice-prefeita de Salvador, Ana Paula Matos, devota de Santa Dulce dos Pobres, diz encontrar na santa inspiração para gerir buscando o desenvolvimento econômico e social da cidade, de modo estruturado e constante, sem perder a dimensão humana de vista: “Quando eu penso na sua história, uma mulher tão pequenininha, com a saúde fragilizada desde os 22 anos, e que, de um galinheiro, fez um hospital, cuidou de tantas vidas de modo organizado, eficiente e sustentável, é como se eu levasse choques de realidade. Isso é bom, porque me obriga a me dedicar cada vez mais pelos mais pobres e vulneráveis, buscando soluções, com resiliência e afeto, como ela nos ensinou”.

Além dos doentes, Irmã Dulce também cuidava de crianças carentes. A partir do albergue Santo Antônio ela iniciou, após a doação de um terreno na cidade de Simões Filho e muitas campanhas para o término da obra, a construção de um Orfanato, hoje Centro Educacional. Essas crianças, todas chamadas de “filhos de Irmã Dulce”, foram acolhidas em um ambiente educacional onde já se praticava, por iniciativa dela, a educação integral, com aulas profissionalizantes, prática de esportes, horta para sustento do próprio orfanato, espaço de brincar, aulas de arte, teatro e música.

Foto: OSID/Acervo

Dulce Amor: amar e servir

Santa Dulce tinha a sua devoção: era inspirada por Santa Clara e São Francisco, sempre buscando o Cristo necessitado nas pessoas doentes ou em estado de vulnerabilidade. “Ela tinha necessidade desse encontro diário com o ‘seu pobre’, como beber ou comer, era um alimento, o que parecia explicar até a resistência física dela para fazer coisas que seu corpo não parecia capaz”, acrescenta Márcio Didier. Irmã Dulce não aceitava ficar fechada no convento. Caminhava pelas ruas, mesmo à noite, recolhendo doentes e cuidando deles.

Era também devota de Santa Teresinha e Santo Inácio: “amar e servir” era um dos seus guias. Seu grande amigo era, entretanto, Santo Antônio. Era conhecido o hábito de Santa Dulce de travar longas conversas com a imagem herdada, a quem recorria na necessidade — sendo sempre atendida. Ela o chamava de “tesoureiro da sua obra”.

A ela, não importava o credo, posição social, raça ou posicionamento político do outro. “Meu partido é a pobreza”, dizia. O olhar bondoso e o afago da sua mão era o mesmo para todo humano que necessitasse do seu acolhimento. Não havia estado de putrefação ou chaga aberta que a assustasse ou movesse os músculos do seu rosto em repulsa.

Todos recebiam dela o mesmo respeito e afeto, e de todos ela também os recebia. Ver, sentir compaixão, cuidar: era sua direção constante. “Ver sem julgar, acolher sem questionar, simplesmente amar, assim ela era”, nos conta Márcio.

Foto: OSID/Acervo

Dulce Exemplo: heroísmo, milagre e fé

Pelas portas do Santuário Santa Dulce dos Pobres, todos os dias chegam novas histórias sobre os milagres e exemplos do divino em Santa Dulce. Lá, se encontra a maquete e os jornais da época em que Irmã Dulce deixou o convento para socorrer vítimas de um incêndio, resultante da batida entre um ônibus e um bonde, na década de 1940. “Ela, com 1,48 de altura, subiu em uma caixa de madeira, pegou um paralelepípedo, quebrou a janela e conseguiu retirar 12 pessoas. Infelizmente 16 pessoas morreram no acidente e ela inalou muita fumaça, agravando o problema de pulmão que já tinha”, conta Márcio.

Ele nos narra ainda como, no final de 2019, um senhor passou mal no Santuário ao ver essa maquete: esse homem era uma das doze pessoas que Irmã Dulce salvou do ônibus, um menino em situação de rua, órfão, que ela transformou, após resgatá-lo, em seu filho. “São milagres, testemunhos diários que a gente tem aqui, de pessoas que conviveram com ela”, acrescenta.

As tantas histórias de fé de Santa Dulce não caberiam aqui. Sobre o taxista que, após transportar um homem com a perna em avançado estado de putrefação, a pedido da santa, passou o dia inteiro com o seu carro inexplicavelmente cheirando a rosas. Sobre o caminhão de cobertores tombado nas proximidades do Hospital, em uma noite fria onde não se tinha com o que agasalhar os doentes.

Márcio conta sobre um certo dia em que a Irmã responsável pela cozinha foi até Santa Dulce informar que não havia nada para servir aos acolhidos naquela noite. Santa Dulce, como sempre fazia, se retirou “para conversar com Santo Antônio”. Enquanto ela rezava, a Obra recebeu a ligação de uma mulher, cuja filha tinha sido abandonada no altar naquela noite. Ela estava com esse banquete de casamento sem uso, e queria saber se Irmã Dulce aceitaria a comida como doação.

Márcio também tem um testemunho seu sobre Santa Dulce, de quando tinha 18 anos. Desejando ajudar os “filhos de Irmã Dulce” no orfanato, ele e dois amigos perguntaram à santa, de gravador em punho, o que poderiam fazer para evangelizar aquelas crianças.

Ela, com muita tranquilidade, disse para não falarem de Deus com esses meninos, pois eles não iriam entender, já que Deus é amor – e que quem não tem família, não sabe o que é amor. Quando eles virem em vocês um amigo, ela lhes disse, não será preciso falar de Deus: eles verão a face dEle no rosto de vocês.

Sugere a santa então aos voluntários “promoverem qualquer coisa para atrair os jovens, captar a amizade deles, não falar logo de religião, nem de Deus, somente fazer amizade”, pois são meninos “muito introvertidos, pelo que eles passaram antes de entrar no colégio. São crianças que sofreram no seio da família, sofridas pelo abandono que viveram na rua”.

“A juventude de hoje, mais do que nunca, precisa de vidas que encaminhem esses jovens para o bem, senão, com certeza, eles vão descambar para outros caminhos, e não são caminhos que levem para o céu”, complementa a santa na gravação.

“Pode custar um pouco, mas pra Deus, tudo o que a gente faz é nada”, finaliza Santa Dulce.

Para conhecer mais sobre a Obra Social deixada por Irmã Dulce, acesse o site.

 

Ouça as palavras de Irmã Dulce sobre atrair jovens para a Igreja

 

Leia mais histórias inspiradoras

Conheça melhor Josué e seja invadido pelo “bom ânimo”

Aprenda com Raab a confiar em Deus com fé e obras

O que Priscila e Áquila deixam como lição para casais

 

O que você achou desse conteúdo?

Deixe seu comentário sobre o que você achou do conteúdo.

Aceito receber a newsleter do IDe+ por e-mail.

Comentários

Cadastre-se

Cadastre-se e tenha acesso
a conteúdos exclusivos.

Cadastre-se

Associe-se

Ao fazer parte da Associação Evangelizar É Preciso, você ajuda a transformar a vida de milhares de pessoas.

Clique aqui

NEWSLETTER

IDe+ e você: sempre juntos!

Assine nossa newsletter, receba nossos conteúdos e fique por dentro
de todas as novidades.