Língua portuguesa: idioma une países dos quatro continentes em torno da fé

A partir da narrativa da Torre de Babel, é possível entendermos a razão de existirem tantas línguas diferentes. Afinal, como está escrito em Gênesis 11,1-9, após o Dilúvio, quando todos falavam o mesmo idioma e a cidade vertical foi construída para se alcançar o céu, Deus decidiu confundir suas falas para que pudessem se espalhar pelo mundo.

De acordo com a instituição linguística Ethnologue, existem atualmente mais de sete mil idiomas falados por pessoas nos quatro cantos do planeta. Entretanto, 23 deles cobrem metade da população mundial. O inglês, o mandarim e o hindu ocupam as três primeiras posições, nesta ordem, mas o português também está entre os 10 mais, na sétima posição.

Falado por mais de 250 milhões de pessoas, o português é a língua nativa de nove países. Além do Brasil e de Portugal, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Timor Leste, Guiné Equatorial, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe têm o idioma como oficial. Na região autônoma de Macau, na China, também se ouve a língua nas ruas, em razão da colonização de Portugal.

Monumento aos Descobrimentos, Lisboa, Portugal

A História conta que a língua portuguesa é neolatina, formada a partir da mistura de muito latim e um pouco de árabe e tem relação estreita com o galego. A expansão do idioma se deu no período colonial, quando Portugal se lançou ao mar em busca de fazer riqueza por meio da exploração de novos territórios. A adoção do idioma fazia parte da cartilha colonizadora.

A fé católica também desembarcou junto com os lusitanos nas caravelas. Por isso mesmo, no Brasil, quase 65% da população se declarou católica no último levantamento do IBGE. O catolicismo também é a religião mais incidente em outras pátrias que falam português. Em Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, por exemplo, a porcentagem ultrapassa 80%.

Além do idioma, a relação com Portugal também uniu os países que foram sua colônia por meio da fé. Não por acaso, o próprio português, depois do latim, presente em celebrações católicas nos seus territórios, foi e é muito utilizado para difundir a palavra de Deus.

Missas em latim

Apesar de extintas, as missas em latim ainda são celebradas no Brasil. Solenes e um tanto formais, elas deixaram de acontecer com mais frequência na Igreja Católica há 60 anos.

O uso do vernáculo, isto é, da língua local, em substituição ao latim foi uma das autorizações do Concílio Vaticano II, convocado em 1961, que não chegou a proibir, de fato, o uso da língua falada pelos antigos romanos.

Recentemente, em 2007, o Papa Bento XVI cogitou retomar as celebrações tridentinas, como são chamadas. As orações são pronunciadas pelos padres em voz baixa e apenas em latim. Além disso, eles têm que usar luvas para não tocar diretamente na Eucaristia e ficam de costas para os fiéis. Em 2021, porém, o Papa Francisco limitou o rito, deixando a sua autorização a cargo do bispo local.

Foto: Felipe Gusso

Outras línguas

Em São Paulo, cidade formada por imigrantes e descendentes de diversas pátrias, uma autorização bastante interessante foi concedida para que celebrações em outros idiomas além do português pudessem ser realizadas corriqueiramente.

Hoje, várias paróquias oferecem missas em idiomas que vão do inglês ao japonês, passando por mandarim, espanhol e até mesmo lituano ou ucraniano na capital paulista. Tudo de acordo com a Arquidiocese local.

Durante a Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, várias cidades adotaram a dinâmica. Para atender os estrangeiros que visitavam o país, a Arquidiocese de Fortaleza, por exemplo, chegou a montar um calendário com diversas celebrações em outros idiomas durante os meses de junho e julho e até missas bilíngues aconteceram na capital cearense.